"Forget Zero Waste" - Como fazer compras mais conscientes e sustentáveis, mas imperfeitas.

"Forget Zero Waste" - Como fazer compras mais conscientes e sustentáveis, mas imperfeitas.

 

Sabemos que o mote principal (que vem logo em primeiro lugar) dos 5 R’s é o reduzir. Reduzimos no consumo, nas compras que fazemos, e reduzimos o nosso impacto ambiental. Temos uma pegada carbónica mais pequena, diminuímos a utilização de recursos virgens e, no geral, somos vais felizes com menos.

Mas a verdade é que existem áreas da nossa vida em que reduzir nem sempre é a grande solução – o exemplo mais flagrante é sempre o do consumo alimentar. Podemos reduzir em fast food, ou doces e comidas menos saudáveis. Mas uma grande porção das nossas compras mensais vai ser sempre em comida, seja nos supermercados, lojas a granel ou a produtores locais. Por isso, a ideia de implementar os ideais zero waste – lixo zero – nas nossas aquisições tornou-se imperativa, mediatizada também pelas numerosas partilhas nas redes sociais dos grandes gurus mundiais da sustentabilidade.

É impensável, nos dias de hoje, comprar feijão ou massa embrulhada em plástico, quando existe à venda em tantas lojas a granel; só temos de levar o nosso saco reutilizável. É impensável, dizemos nós. Mas será que é mesmo?

Na Pegada Verde, não acreditamos em pessoas perfeitas - mas sim em pessoas imperfeitas que se esforçam para dar o melhor de si, e fazer as melhores escolhas considerando a realidade que as rodeia. Sustentabilidade deve ser, acima de tudo, tomar decisões que são sustentáveis para nós enquanto indivíduos, pois apenas isso nos vai permitir estar em sintonia com a Natureza, sem desesperos ou angústias.

 

TRABALHA COM AS LOJAS E O TEMPO QUE TENS

Acompanha-me neste caminho. Vais visitar várias lojas diferentes – dois ou três supermercados, numa zona espacial relativamente próxima, porque cada um deles nos oferece coisas diferentes. Um vende frutos secos a granel, o outro vende leite biológico e o último disponibiliza legumes frescos, sem embalagem. Viajas de carro de casa para a primeira loja, e depois entre as lojas, e voltas para casa. Sentes que fizeste algo de bom pelo planeta.

Tens a certeza que valeu a pena? Consegues comparar as emissões de carbono que o teu carro emitiu com as emissões correspondentes a comprar todos esses produtos num só local, mesmo que alguns deles viessem embalados em plástico?

Não vale a pena sentires culpa por já teres feito uma ou duas decisões erradas no que toca a estas questões (e a culpa vai ser um dos pontos mais à frente) – já todos o fizemos, e nunca há uma resposta certa para a maioria destas questões! Mas a verdade é que, na maioria dos casos, saltitas de loja em loja para encontrar produtos mais sustentáveis poderá, de facto, não ser mais sustentável. Especialmente em termos de tempo, que não sendo um bem ligado à sustentabilidade, não deixa de ser muito importante na nossa vida hoje em dia (e muito escasso, também).

Também é importante refletir que nem todos os locais estão servidos com os mesmos tipos de serviços. Em zonas mais pequenas ou mais rurais não é tão fácil encontrar, por exemplo, lojas a granel, mas pode ser mais fácil encontrar produtores locais, que possam vender alimentos vindos diretamente da horta. Podem não ser biológicos, mas certamente terão uma pegada ecológica menor do que uma alface biológica vinda de Espanha.

Por isso, o importante é focares-te na tua zona, e naquilo que podes mudar sem ter de ir para muito longe. Trabalha sempre com o que tens, na maioria das vezes é a melhor opção!

 

COMPRA EM MAIORES QUANTIDADES

Quando entras num supermercado, é fácil encontrar montanhas e montanhas de produtos embalados em plástico e, infelizmente, em determinados produtos é quase impossível encontrá-los sem plástico ou sem embalagem.

Por isso, se tiveres de optar por esse tipo de produtos, opta por comprar embalagens que disponibilizem uma maior quantidade. Para além de, a longo prazo, serem geralmente mais baratas, uma maior quantidade também significa que é feito um melhor aproveitamento da embalagem.

 

O LIXO VEM EM DIFERENTES FORMAS

Desengane-se quem acha que o lixo é apenas o conjunto de embalagens descartáveis, sacos de plástico e tudo o que não é consumível. O desperdício de comida também é um dos “lixos” mais comuns – e não só é um desperdício de recursos, como é altamente poluente; isto porque a comida colocada nos aterros, ficando enterrada debaixo de camadas e camadas de lixo sem respirar, acaba por largar metano, um dos gases de efeito estufa mais poluentes.

Por esse motivo, uma das grandes escolhas que podes fazer é optar por alimentos que estão perto do prazo de validade, de forma a evitar que vão para o lixo. Também podes aceder ao site Good After, dedicado à venda de produtos que se encontram perto do fim do prazo de consumo preferencial, ou mesmo com esse prazo já ultrapassado.

Nestes casos, é importante que tenhas em consideração a diferença entre as validades “consumir até” e “consumir de preferência antes de”:

• Consumir até: trata-se de um prazo máximo de consumo, da data a partir da qual os produtos não podem ser consumidos e comercializados. Estes prazos são aplicados maioritariamente a produtos frescos e, por razões de segurança alimentar, não devem ser consumidos ou colocados à venda após essa data.

• Consumir de preferência antes de: trata-se de um prazo mínimo de consumo, uma data até à qual as marcas asseguram a qualidade ótima do seu produto. Nestes casos, a segurança alimentar não está em causa e é permitido o consumo e a venda destes produtos após a data indicada.

 

O LIXO NEM SEMPRE É O FOCO – E PODE SER INVISÍVEL

Da mesma forma que conseguimos perceber que existem diferentes tipos de lixo e desperdício, também conseguimos perceber que, por vezes, diminuir o lixo não tem de ser o grande foco do nosso consumo.

Um exemplo: seria preferível consumir um alimento biológico, de origem em comércio justo e produzido em Portugal, mas embalado em plástico, ou o mesmo alimento, mas com recurso a pesticidas, vindo de outro país da União Europeia, sem embalagem? A nossa pegada ecológica não se resume apenas às embalagens que deitamos fora. Um produto que tenha de ser enviado por avião terá uma pegada carbónica muito superior a um produto feito em Portugal, mesmo que a embalagem deste seja menos sustentável.

Além disso, este tipo de produtos tem tendência a ter o chamado “lixo invisível”. Durante o transporte dos produtos, ele já foi embalado dezenas de vezes em diferentes embalagens, sejam elas de plástico ou não. Na maioria das vezes, os produtos que chegam às nossas mãos sem embalagem já tiveram, em vários momentos da sua produção, embalagens associadas – simplesmente quando são colocadas no ponto de venda, essas embalagens são retiradas e não chegas a vê-las. Mas elas existiram.

É por isso que é muito importante manteres em mente a ideia de sustentabilidade através da cadeia de produção – questiona as marcas e empresas onde compras os teus produtos sobre a forma como elas, e os seus fornecedores, fazem o embalamento dos produtos e o seu devido tratamento. É aí que se faz a magia!

 

O MAIS IMPORTANTE: NÃO SINTAS CULPA

A sustentabilidade não pode, nem deve, ser angustiante – pois é essa angústia, e esse desespero, que facilmente nos leva a desistir. “Não consigo fazer isto, não consigo fazer aquilo, mais vale desistir... Na minha aldeia não há nada a granel, não consigo ser sustentável...”

Lembra-te que a sustentabilidade significa coisas diferentes para pessoas diferentes, e cada um de nós tem o seu ritmo, e as suas preocupações. Quaisquer que sejam os passos que estás a tomar, desde que sejam conscientes, são de certeza já uma grande ajuda para o ambiente.

E, em especial, lembra-te que há momentos em que nem sempre é possível “descartar os descartáveis”. Por vezes, vais mesmo ter de comprar aquele produto embrulhado em plástico, ou com uma embalagem que não vais conseguir reutilizar. Desde que esse não seja um hábito que manténs em todas as compras durante toda a tua vida, os erros fazem parte da caminhada! E a imperfeição é apenas um sinal de que somos todos humanos.