Quando passamos a nossa vida a ouvir falar repetidamente de “aquecimento global”, “buraco na camada do ozono”, “degelo e subida do nível do mar”, “poluição dos rios e oceanos” e “desflorestação da Amazónia”, podemos ter a tendência para desvalorizar.
Quando ouvimos algo chocante vezes e vezes sem conta, parece que nos habituamos. E aquilo que, à partida, nos deixaria revoltados, acaba por nos trazer uma certa indiferença.
O alienamento e a desacreditação parecem ser uma resposta normal por grande parte da população. Mas se estás a ler este artigo, é porque não partilhas dessa opinião e porque te preocupas com o dia de amanhã.
E quem se preocupa com todas estas problemáticas e se empenha para alcançar um mundo cada vez mais sustentável pode acabar por sentir que é uma tarefa quase impossível e isso causa angústia e ansiedade.
É assim que surge o sentimento de eco-ansiedade, que é, nada mais nada menos, que a sensação de ansiedade, de medo e de desespero, provocada pelo estado actual do meio ambiente e pelo futuro pouco promissor previsto.
O QUE É?
Apesar de ser possível de diagnosticar e de haver cada vez mais pessoas a sofrer deste problema, a eco-ansiedade continua a não ser considerada uma doença, não havendo também uma definição médica para este conceito.
O mais próximo que há é a definição da American Psychological Association, que descreve a eco-ansiedade como o “medo crónico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.
Apesar de esta definição - e até mesmo o próprio conceito de eco-ansiedade - corresponderem a um neologismo, a verdade é que já se fala deste problema há algum tempo, havendo outros conceitos que definem a relação que as alterações climáticas têm com a saúde mental.
Segundo filósofo Glenn Albrecht, que criou o conceito de Solastalgia, este consiste “no conjunto de distúrbios psicológicos que ocorrem numa população após mudanças destrutivas no seu território, sejam decorrentes das actividades humanas ou do clima”. Ou seja, ao contrário da eco-ansiedade, a solastalgia manifesta-se apenas em quem sofreu os efeitos das destruições do território (seja por acção humana, seja por acção da natureza). Por sua vez, a eco-ansiedade consiste num medo de vir a sofrer estas consequências.
COMO SE MANIFESTA?
Apesar de não ser considerada uma doença, é possível identificar a eco-ansiedade. Os principais sintomas prendem-se com stress, nervosismo, ansiedade e distúrbios no sono, mas podem ir a níveis mais profundos, culminando numa depressão.
De facto, a eco-ansiedade não afecta todas as pessoas da mesma forma, manifestando-se a vários níveis:
• Saúde Mental: stress, ansiedade, depressão, sentimento de perda, tensão nas relações sociais;
• Saúde Física: alterações no estado físico e nível de actividade, aumento de alergias, maior exposição a doenças transmitidas pela água;
• Saúde Comunitária: redução da coesão e da estabilidade social, aumento da violência e criminalidade.
COMO SUPERAR?
Para superar a eco-ansiedade - ou até mesmo para não chegar a este sentimento de angústia - partilhamos algumas dicas para aplicares no teu dia-a-dia:
• Passo a passo: não queiras mudar tudo de uma vez! A sustentabilidade deve ser adaptada ao ritmo de cada um. Para não caíres num sentimento de frustração, vai definindo as tuas próprias metas e os respectivos timings;
• A perfeição não existe: se houver um dia em que te esqueceste dos sacos reutilizáveis, que tiveste vontade de comer carne, que usaste uma cápsula de café descartável... está tudo bem! O que importa são todas as conquistas que vais alcançando e, se houver um dia em que não seguiste tudo à risca, não te culpabilizes;
• Não te compares aos outros: todos estamos em níveis diferentes no que toca à sustentabilidade. Se ainda não conseguiste começar a fazer compostagem, não te martirizes porque outra pessoa que conheces já o faz há três anos. Da mesma forma que, se vês uma pessoa a usar garrafas de água descartáveis, não julgues, pois poderá estar para breve a mudança para as garrafas de água reutilizáveis;
• Celebra as conquistas: a sustentabilidade deve ser um motivo de orgulho. Cada novo passo dado deve ser celebrado. Não olhes sempre para aquilo que ainda falta fazer, mas olha também para trás e vê o que já alcançaste;
• Não guardes tudo para ti: todos temos os nossos anseios e, se partilharmos com os nossos amigos e familiares, vamos sentir que há mais pessoas a sentir o mesmo que nós. Dividir os anseios e as preocupações ajuda a relativizar.
Por vezes, pode parecer que todos os nossos esforços para um mundo mais sustentável são em vão. Mas, se todos mudarmos um pouco, isso terá um impacto brutal no meio ambiente. Nunca baixes os braços, nem deixes de acreditar que podes fazer a diferença! Vai fazendo a tua parte, sempre com a esperança de que os outros também o irão fazer.
Fonte:
https://www.medicalnewstoday.com/articles/327354
https://time.com/5735388/climate-change-eco-anxiety/
https://www.iberdrola.com/compromisso-social/o-que-e-ecoansiedade
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