Era Digital: qual o impacto da internet no ambiente?

Era Digital: qual o impacto da internet no ambiente?


Vivemos numa era digital. Cada vez mais ouvimos esta expressão – mas sabemos o que realmente significa? Significa que, hoje em dia, quase nenhum de nós sai de casa sem levar o telemóvel, o tablet ou o computador. Somos seguidos pelas nossas próprias tecnologias, porque nos desenvolvemos até um ponto em que elas não são apenas um mero acessório; elas são um órgão vivo, um membro que faz parte de nós.

Por isso, quando falamos no que é “ser ecológico” ou “fazer escolhas mais sustentáveis”, sabemos que não podemos pensar apenas na redução do lixo ou em fazer reciclagem. A nossa pegada carbónica tem uma parte “invisível” – que não vemos quando produzimos, mas que existe e tem um impacto muito grande no ambiente. A nossa pegada digital não é apenas uma impressão digital que deixamos de tudo o que procuramos e vemos na internet; é também um rasto que deixamos para futuras gerações.

Por isso, quando ligamos diariamente os nossos aparelhos eletrónicos, é importante questionarmos: qual é o verdadeiro resultado das nossas longas horas passadas em frente ao ecrã?

Estima-se que, actualmente, 4,66 mil milhões de pessoas são utilizadoras ativas da Internet.[1] Eu sou uma delas, caso contrário este texto não estaria aqui, e tu também és uma delas, ou não estarias a ler esta publicação.

E cada página que visitas, cada pesquisa que efetuas num motor de busca, cada vídeo que vês, tem associada uma emissão de CO2.

 

EMISSÕES DE CARBONO

Ainda antes da atual pandemia, estimava-se que 3,7% das emissões globais de gás estufa[2] eram resultado apenas da utilização da internet. E menciono o antes da pandemia, porque o COVID-19 alterou e muito a nossa utilização da internet. Mas lá chegaremos mais à frente.

De onde surgem, afinal, estas emissões? Surgem de tudo o que fazemos na internet.

       • 306 mil milhões de emails enviados diariamente produzem 1,2 mil milhões de kg de CO2, o equivalente a 12 mil viagens à Lua
       • Mil milhões de horas vistas no Youtube diariamente produzem 6 milhões de kg de CO2, o equivalente a 62 viagens à Lua
       • 1,7 mil milhões de utilizadores ativos no Facebook diariamente produzem 1,3 milhões de kg de CO2, o equivalente a 13 viagens à Lua
       • 3,5 mil milhões de pesquisas diárias no Google produzem 700 mil kg de CO2, o equivalente a uma viagem à Lua

Fonte: https://www.webfx.com/blog/marketing/carbon-footprint-internet/

 

Mas a grande fatia do bolo está reservada à visualização de vídeos online, que corresponde sensivelmente a 60% de todo o tráfego mundial de internet. Por ano, este tráfego gera 300 milhões de toneladas de CO2.[3] Isto é equivalente a 1% das emissões globais de CO2 – ou seja, a visualização de vídeos em todo o mundo gera tanto CO2 num ano quanto Espanha.

O vídeo da música Despacito, que se tornou viral em 2017, tem mais de 5 mil milhões de visualizações no Youtube – o que deverá ter gerado cerca de 250 mil toneladas de dióxido de carbono, e consumido tanta eletricidade como o Chade, Guiné-Bissau, Somália, Serra Leoa e República Centro-Africana todos juntos.[4]

Esta emissão de CO2 está relacionada com a própria ‘existência’ da internet. Ela necessita de servidores físicos em centros de dados espalhados pelo mundo. Estes centros são ligados por quilómetros de cabos debaixo do mar, botões e routers que necessitam de energia para funcionar. A maioria dessa energia vem de fontes como carvão, gás natural e petróleo, que emitem CO2.[5]

Além disso, temos uma ideia quase ingénua de que a Internet faz parte de uma “desmaterialização” das coisas – se é digital, não é físico, se existe na internet, não utiliza tantos recursos. No entanto, há algo muito físico na nossa utilização da internet: os aparelhos eletrónicos que utilizamos.

 

COMPUTADORES, TELEFONES E TABLETS

Como seria de esperar, a produção de computadores, telefones e tablets – os aparelhos que utilizamos para navegar na internet – também têm um impacto no ambiente.

1 Computador: 1 tonelada de recursos naturais, 240kg de combustível, 1500L de água[6]
1 Microchip de computador: 1,6kg de combustível, 16000L de água[7]

Actualmente, o impacto da produção destes aparelhos é tão grande que, para a conseguirmos compensar, teríamos de utilizar, por exemplo, o mesmo aparelho entre 33 a 89 anos[8]. Quando sabemos que uma grande maioria das pessoas troca, por exemplo, o seu telemóvel quase todos os anos, conseguimos perceber que a utilização e consumo que fazemos neste momento está muito longe daquilo que seria sustentável a longo prazo.

É por isso que é urgente repensar a forma de consumo. Continuando a este ritmo, em 2050 iríamos precisar de 8,5 planetas para absorver todo o monóxido de carbono e 6 planetas para alimentar a necessidade de aço.

Além disso, existe um espaço também bem real e palpável que emite muito CO2, e que é essencial para o funcionamento da internet como a conhecemos actualmente: os data centers (centros de dados). Estes centros são repositórios para milhares de milhões de gigabytes de informações e consomem 3% da energia mundial e são responsáveis por 2% das emissões globais de gases estufa.[9]

Estes números são resultado não só do facto de os data centers serem cada vez maiores (chegam a ser “salas” com 150 mil metros quadrados – aproximadamente 21 campos de futebol), mas também da necessidade de utilizar ar condicionado e ventoinhas para arrefecer as salas, de modo a que os servidores não sobreaqueçam.

 

COMO REDUZIR A PEGADA CARBÓNICA DIGITAL

Sendo óbvio que não podemos controlar a utilização mundial da internet, existem coisas que podemos fazer individualmente de forma a diminuir a nossa pegada carbónica digital.

• Download é melhor do que streaming: ao assistires a vídeos ou ouvires música, a opção de download consome menos energia do que a de streaming. Também é menos poluente armazenar estes dados diretamente no teu computador ou telemóvel do que armazená-los na cloud. Serviços de streaming como Spotify e Netflix já oferecem actualmente a opção de fazer download, ao invés de ver diretamente na plataforma. Sempre que tiveres de fazer stream de um vídeo ou file, também podes reduzir a resolução de vídeo para evitar maiores emissões. Precisas mesmo de ver aquele vídeo em 4K num ecrã minúsculo do telemóvel?

• Usa o teu browser de forma inteligente: em primeiro lugar, evita ter demasiadas janelas abertas ao mesmo tempo – abre apenas aquilo que estás a utilizar no preciso momento de utilização. Também podes utilizar os “Favoritos” ou “Bookmarks” para guardar sites frequentemente visitados, em vez de fazer pesquisas repetidas no Google. E muito importante: pensa antes de procurar! Faz a tua pesquisa da forma mais exacta possível, para evitar várias pesquisas sobre o mesmo assunto.

• Trata dos emails: limita o número de emails que envias. Será mesmo necessário enviar aquele email que apenas diz “ok, obrigada”? Também deves evitar emails para vários destinatários, excepto nos casos em que é totalmente necessário. Tenta manter os anexos com o tamanho mais pequeno possível, e envia tudo em formato texto (em vez de HTML) sempre que possível. Lembra-te também que cada e-mail que chega à tua caixa de entrada vai ser armazenado e isso requer eletricidade. Por isso, vai limpando a caixa de entrada ocasionalmente para evitar ter demasiados emails armazenados sem necessidade, limpa a tua caixa de spam e cancela a assinatura das newsletters que nunca lês.

• Diminui o brilho do computador ou utiliza o “dark mode”: reduzir o brilho do teu computador de 100% para 70% vai reduzir o consumo de energia em 20%[10]. Além disso, no que toca a aparelhos como o telemóvel, utilizar as aplicações em “dark mode” pode prolongar a vida útil da tua bateria. Por exemplo, com 50% de brilho, a interface do Youtube em modo escuro economiza cerca de 15% de energia em comparação com um fundo branco. Com 100% de brilho, a interface escura economiza 60% da energia (dados verificados em ecrãs OLED). [11]

 

Como acontece na maioria das áreas da sustentabilidade, o equilíbrio é a chave! Ao experimentares algumas opções para diminuir a tua pegada carbónica digital, já terás um grande impacto no futuro.

 

[1] Fonte: https://datareportal.com/global-digital-overview
[2] Fonte: https://www.bbc.com/future/article/20200305-why-your-internet-habits-are-not-as-clean-as-you-think
[3] Fonte: https://theshiftproject.org/en/article/unsustainable-use-online-video/
[4] Fonte: https://www.bbc.com/future/article/20200305-why-your-internet-habits-are-not-as-clean-as-you-think
[5] Fonte: https://www.webfx.com/blog/marketing/carbon-footprint-internet/
[6] Fonte: https://elpais.com/tecnologia/2007/03/07/actualidad/1173259681_850215.html
[7] Fonte: https://www.tecnologialibredeconflicto.org/en/environment/
[8] Fonte: https://www.umweltbundesamt.de/sites/default/files/medien/461/publikationen/4317.pdf
[9] Fonte: https://www.independent.co.uk/climate-change/news/global-warming-data-centres-to-consume-three-times-as-much-energy-in-next-decade-experts-warn-a6830086.html
[10] Fonte: https://green.harvard.edu/tools-resources/green-tip/reduce-monitor-brightness-reduce-energy
[11] Fonte: https://blog.weekdone.com/why-you-should-switch-on-dark-mode/