Quantas vezes já passaste por artigos em blogs, páginas de marcas ou até embalagens no supermercado e te deparaste com determinadas expressões cujo significado nem sempre é claro?
Sabemos que a sustentabilidade não é “pera doce”, e que nem sempre é simples compreender o que se está a dizer com certas frases. Mas, na Pegada Verde, achamos que a informação sobre sustentabilidade deve estar ao alcance de todos, e não apenas de alguns. Trabalhamos para que a informação que te passamos seja clara e, ao leres os nossos artigos, possas passar a conhecer um pouco melhor o complexo mundo da ecologia.
Desta vez, trazemos-te uma das questões que mais confusão causa à generalidade das pessoas: as definições relacionadas com emissões atmosféricas e gases de efeito estufa. Antes de passarmos ao ‘sumo’, deixa-nos apenas fazer uma pequena confissão: antes deste artigo, até nós tínhamos dificuldade em encontrar as diferenças entre cada uma das seguintes definições! Agora, se era difícil para nós, imagina para a cabeça do consumidor comum... uma verdadeira confusão!
AHH... EMISSÕES? O QUE É QUE EMITE O QUÊ?
Não podemos aprender a correr sem aprender a caminhar primeiro. Por isso, antes de passarmos para as definições difíceis, vamos começar pelo básico: quando alguém fala em emissões neutras ou emissões negativas, está a falar, exatamente, do quê?
O termo emissões é comummente utilizado para falar do envio de gases para a atmosfera. Podemos estar a falar de emissões lançadas por fontes naturais ou fontes antropogénicas:
- Fontes Naturais são fontes que libertam gases de forma natural, como é o caso de atividades vulcânicas;
- Fontes Antropogénicas são fontes de emissões criadas pelo homem, como as indústrias petrolíferas, os carros ou até a criação de gado.
Além disso, estas fontes emissoras podem subdividir-se ainda em fontes móveis ou fontes estacionárias:
- Fontes móveis são fontes que não se situam num lugar fixo, como é o caso de carros, aviões, navios, comboios e todo o tipo de meios de transporte;
- Fontes estacionárias são fontes que se encontram num local fixo, como as refinarias, indústrias químicas e centrais de energia elétrica.
E, na verdade, ao explicar tudo isto, se calhar até já nos adiantámos. Porque quando estamos a falar em fontes de emissões, estamos a falar de emitir o quê?
As fontes de emissões emitem gases poluentes para a atmosfera. A emissão de gases modifica as características naturais da atmosfera[1], altera a composição química da atmosfera, e causa o já conhecido efeito de estufa.
E apesar de o dióxido de carbono (CO2) ser o poluente mais conhecido, existem diferentes tipos de gases poluentes: metano (CH4), óxido nitroso (N2O), ozónio (O3), clorofluorcarbonetos (CFCs), monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogénio (NOx) e os compostos orgânicos voláteis (COVs).
OK, E AGORA, O QUE FAZEMOS COM AS EMISSÕES?
Temos a certeza de que tens ouvido falar muito nas emissões de gases para a atmosfera, e na tentativa de várias marcas e empresas neutralizarem essas mesmas emissões.
Mas a verdade é que existem vários termos a serem colocados na mesa: algumas marcas dizem terem emissões neutras, outras falam em emissões negativas e até há quem fale em emissões positivas. A utilização de diferentes termos para explicar coisas muito semelhantes, ou iguais, dificulta a compreensão e torna bem mais complicada uma análise clara da sustentabilidade das marcas.
Afinal, se não conseguimos definir o que significa cada um destes termos, como é que podemos sequer quantificá-los e aplicá-los à realidade?
Por isso mesmo, vamos desdobrar as diferentes expressões utilizadas e tentar que tudo fique bem mais claro para ti.
EMISSÕES NEUTRAS (CARBON NEUTRAL)
Uma empresa pode ser considerada neutra em carbono se a quantidade de emissões de CO2 colocadas na atmosfera forem iguais à quantidade de emissões que são removidas da atmosfera. O impacto acaba assim por ser neutro – igual a zero.
Em termos de sustentabilidade, não está a poluir mais o ambiente, mas também não o está a tornar melhor.
Por outro lado, dizer que uma empresa tem emissões neutras ou dizer que tem emissões zero não é a mesma coisa. Apesar de serem frequentemente utilizadas como sinónimos, as duas expressões são bastante diferentes. Esta confusão acontece exatamente graças ao que explicámos acima: o impacto é igual a zero (neutro), logo, as empresas dizem que têm emissões zero.
EMISSÕES ZERO (NET ZERO)
Parece fácil, mas não é: se uma empresa disser que tem “emissões zero”, isso significa (ou deveria significar!) que não emite, de todo, CO2, desde a produção até à utilização final do produto.
No nosso sistema atual, nenhuma tecnologia é completamente emissões zero, e até a tecnologia mais sustentável tem algum tipo de emissões, nem que seja durante o fabrico. Por outro lado, para muitas empresas, é difícil controlar as emissões resultantes das fases iniciais (como é o caso da recolha de matérias-primas). É, no entanto, possível que um determinado produto tenha emissões apenas durante a produção, e não durante a sua utilização – nesse caso, podemos dizer que a utilização desse produto tem emissões zero.
Além disso, o termo net zero ainda costuma ter um significado mais abrangente: refere-se não só às emissões de CO2, mas também à emissão de qualquer gás de efeito estufa.
EMISSÕES NEGATIVAS (CARBON NEGATIVE)
A ideia de emissões negativas pega na ideia de emissões neutras e leva-a um passo mais à frente. Neste caso, uma empresa passa a ter emissões negativas se a quantidade de CO2 removida da atmosfera for superior à quantidade de emissões enviadas na atmosfera. Neste caso, o impacto é positivo e isso significa que se está a fazer algo de forma ativa para melhorar o ambiente.
Regra geral, apenas é possível ter um efeito de emissões negativas caso a empresa tenha grandes projetos de compensação carbónica, como por exemplo projetos de reflorestação ou captura direta de dióxido de carbono.
EMISSÕES POSITIVAS (CARBON POSITIVE)
A expressão ‘emissões positivas’ é, geralmente, utilizada numa perspetiva de marketing, para evitar utilizar expressões com conotações menos boas (“negativo” é uma palavra com uma má conotação, por exemplo).
No entanto, quando uma empresa diz que tem emissões positivas, quer na realidade dizer que tem “emissões negativas” – ou seja, que tem um impacto positivo no ambiente. Se, de facto, uma empresa tivesse emissões positivas, isso significa que lançaria para a atmosfera uma quantidade maior de CO2 do que aquela que consegue remover.
Por ser um termo confuso, a sua utilização deve ser evitada de forma a facilitar a compreensão da mensagem que queremos passar.
Agora que já conheces melhor estes termos, estás também em melhores condições de avaliar as preocupações ambientais das empresas e marcas que te rodeiam. Em caso de dúvida sobre os termos utilizados, nunca te esqueças de que o passo mais importante a dar é questionar as marcas sobre as características que afirmam ter. Isto irá ajudar-te a compreender melhor o significado das expressões e, claro, a manter as empresas responsáveis pela sua comunicação.
[1] Fonte: https://www.who.int/health-topics/air-pollution
Outras fontes:
https://ecometrica.com/carbon-neutral-net-zero/
https://www.ovoenergy.com/guides/energy-guides/what-does-carbon-neutral-mean
https://plana.earth/academy/what-is-difference-between-carbon-neutral-net-zero-climate-positive/
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