O Papel da Mulher na Sustentabilidade

O Papel da Mulher na Sustentabilidade

Hoje, dia 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. Esta comemoração não é uma data dedicada apenas à “existência” da mulher – mas sim dedicada a todas as conquistas feitas até agora em nome da igualdade de género.

A data apenas foi lançada oficialmente pela ONU em 1975. Antes disso, são poucas as menções ou existências de datas destinadas a celebrar a mulher – a 20 de fevereiro de 1909 foi celebrado o primeiro Dia da Mulher, em Nova Iorque, organizado pelo Partido Socialista da América. Foi uma jornada de manifestações pela igualdade de direitos civis, especialmente em luta pelo voto feminino.

Na Rússia, várias mulheres, em protesto contra o desemprego e as condições pobres de vida no país, juntaram-se para organizar uma manifestação – que ocorreu no dia 8 de março de 1917. Juntaram-se a elas vários operários metalúrgicos, e a manifestação estendeu-se por vários dias, tendo eventualmente dado origem à Revolução de 1917. A partir daí, essa data passou a ser celebrada todos os anos pelo movimento socialista na Rússia e em vários países do bloco soviético.

As mulheres foram, portanto, um polo revolucionário na história do mundo – e continuam, até aos dias de hoje, a ser revolucionárias, ativistas, enquanto se encaixam também no papel de mães, filhas, irmãs, trabalhadoras, desportistas, donas de casa.


HÁBITOS MAIS SUSTENTÁVEIS

As mudanças climáticas são um problema global, e por isso, afetam todas as idades, todas as classes sociais e todos os géneros. Chegamos facilmente a essa conclusão; mas, quando analisamos a realidade, os dados são um pouco diferentes do que estaríamos à espera.

No geral, as mulheres atiram menos lixo para o chão[1], reciclam mais[2] e têm uma pegada carbónica menor[3]. As mulheres estão mais dispostas a conduzir carros elétricos[4] e comem menos carne, e mais vegetais, do que os homens[5]. Quando olhamos para manifestações sobre problemas ambientais, vemos mais mulheres. Muitas das grandes vozes para as mudanças climáticas, são mulheres – Jane Goodall, Wangari Maathai, Vandana Shiva, e Greta Thunberg são todas exemplos que inspiraram o mundo através do seu ativismo.

A parte mais complexa, que estes dados não mostram, é o porquê. Porque é que os homens estão menos dispostos a fazer alterações nos seus hábitos diários que podem alterar o rumo das mudanças climáticas?

 

PRODUTOS ECOLÓGICOS

As mudanças mais simples, que a maioria dos consumidores procura, está mesmo no local mais espectável: nas prateleiras dos supermercados. Há um impulso visível das comunidades globais em direção à compra de produtos mais sustentáveis em todas as áreas da sua vida, deste a cosmética, à limpeza do lar e ao lazer.  E a maioria destes produtos são comercializados para (e a pensar em) mulheres.

Existe uma razão óbvia para isto: as mulheres não só são as consumidoras mais poderosas, como ainda são (desproporcionalmente) responsáveis por uma grande parte da esfera doméstica. Um estudo de 2018, realizado pela empresa de estudos de mercado Mintel[6], mostra que as mulheres ainda tendem a assumir o controlo das tarefas domésticas. E com campanhas de marcas e produtos de sustentabilidade voltadas principalmente para o público feminino, corre-se o risco de passar a mensagem de que a sustentabilidade é um trabalho feminino.

 

PREOCUPAÇAO COM A MASCULINIDADE

Um estudo feito pela Scientific American [7] em 2017 mostrou que existia uma ligação psicológica entre a ecologia e as percepções de feminilidade. Tanto homens como mulheres consideravam produtos e comportamentos ecologicamente corretos como sendo mais femininos. Indivíduos do sexo masculino, que traziam sacos reutilizáveis ao supermercado, foram identificados pelos participantes (de ambos os sexos) como sendo mais femininos do que alguém que levava um saco de plástico. Em 2019, um estudo semelhante publicado pela revista Sex Roles [8] obteve os mesmos resultados.

Desta forma, conseguimos perceber que os homens se sentem motivados a evitar comportamentos “verdes” para salvaguardar a sua identidade de género – e a sua participação nas mudanças climáticas está dependente de considerarem as marcas, e os respetivos produtos, suficientemente masculinos.

 

PARTICIPAÇAO NA TOMADA DE DECISOES

Apesar de as mulheres estarem profundamente envolvidas nas causas ambientais, acabam por não ver uma correspondência na sua representação nas tomadas de decisões políticas.

Nos maiores comités de tomadas de decisão das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, as mulheres representam uma minoria, sendo apenas 20% dos autores dos relatórios do International Panel on Climate Change, e menos de 30% da maioria dos principais órgãos de negociação das mudanças climáticas globais. [9]

E além de serem quem mais atua, e quem está menos representado, as mulheres são também quem é mais afetado pelas alterações climáticas.

Um relatório da ONU de 2010 afirma que, na África Subsaariana rural, quem recolhe e transporta a água da família, são 63% mulheres. Segundo dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), as mulheres representam 70% das pessoas pobres do mundo, e 80% de todos os refugiados por problemas climáticos.

 

O QUE PODEMOS FAZER?

A realidade que nos assombra é que em 2021, existe ainda um longo caminho a percorrer em ambas as vertentes: igualdade de género, e sustentabilidade.

Um estudo sobre a ligação entre igualdade de género e a emissão de gases de carbono[10] chegou à conclusão de que existe uma relação de crescimento inverso: quanto maior for a igualdade de género, menor será a emissão de gases de estufa para a atmosfera. E para chegar a este caminho, a única hipótese é mesmo a desconstrução dos papéis de género. O papel de cuidar do planeta é teu, meu e de todos, independentemente do nosso género.

Hoje é Dia da Mulher, e queremos que celebres o caminho que já percorreste até aqui e tudo de bom que já fizeste por ti, e pelo planeta! E a partir de hoje, vamos trabalhar todos juntos para que o Dia da Mulher possa ser celebrado por todos como um momento de emancipação e renovação de mentalidades.

 

[1] Fonte: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/01461672002610009

[2] Fonte: https://spssi.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/0022-4537.00177

[3] Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0301421509005977

[4] Fonte: https://theecologist.org/2018/jul/05/women-will-drive-transition-electric-cars-study-finds

[5] Fonte: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7305505.stm

[6] Fonte: https://www.mintel.com/press-centre/social-and-lifestyle/the-eco-gender-gap-71-of-women-try-to-live-more-ethically-compared-to-59-of-men

[7] Fonte: https://www.scientificamerican.com/article/men-resist-green-behavior-as-unmanly/

[8] Fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s11199-019-01061-9

[9] Fonte: https://ecoa.org.br/mulheres-sao-mais-sustentaveis/

[10] Fonte: http://lup.lub.lu.se/luur/download?func=downloadFile&recordOId=8934039&fileOId=8934040