Já todos estamos a par de que atravessamos o momento mais crítico da nossa espécie, e o impacto que temos no clima é uma ameaça para todos nós.
Sabemos que é urgente limitar o aquecimento global em 1,5ºC, e as emissões globais anuais de gases de efeito de estufa devem baixar cerca de 20%.
Por isso, 2021 é o ano em que cuidar da Terra terá de ser o nosso mote, sem exceção.
Métodos regenerativos e de conservação já se fazem ouvir como um sussurro um pouco por todo o planeta, mas o eco vai tornar-se cada vez mais forte.
SUSTENTÁVEL VS REGENERATIVO
Já falamos de sustentabilidade há muito tempo; aqui na Pegada Verde, contamos já com 11 anos. E muitas vezes dou por mim quase a desvalorizar o termo, a palavra em si. Parece que está “gasta”, talvez por ser utilizada cada vez mais em quase todos os contextos.
Quando há dias lia um artigo sobre a transição do sustentável para o Regenerativo, foi como um sopro de lógica.
No fundo, o conceito de sustentabilidade revela demasiada passividade, fazendo cada vez mais sentido falar de Regenerativo. Isto porque quase todos os dias assistimos a novos lançamentos de linhas sustentáveis por muitas marcas. Sejam elas mais ou menos conhecidas, todas elas fazem compensação carbónica, ou comunicam a redução dos níveis de energia necessária na produção.
Mas no Agora, estas ações parecem não ser suficientes.
A “Revolução” Regenerativa está aí ao virar da esquina e ganha forma em diferentes áreas da nossa vida. Ainda que tenha começado na agricultura é extensível a muitas outras áreas.
AGRICULTURA
Segundo a WWF, metade do solo à vista do planeta, tornou-se infértil pelas sucessivas práticas agrícolas pouco sustentáveis dos últimos 150 anos.
E perder o nosso solo fértil é o mesmo que dizer que perdemos 95% dos meios naturais para produzir os nossos alimentos.
Estudos recentes têm demonstrado que a agricultura regenerativa captura e fixa no solo o carbono da atmosfera. Quanto mais dióxido de carbono conseguirmos fixar nos solos férteis, mais poder teremos para reverter as alterações climáticas.
Robert Rodale foi o primeiro a falar de agricultura Orgânica Regenerativa, de forma a distingui-la da Agricultura meramente Sustentável, mostrando que este tipo de agricultura tira partido nas tendências naturais dos ecossistemas em se regenerar quando perturbados.
Benefícios da Agricultura Regenerativa:
• Dá prioridade à saúde do solo (pela rotação de colheitas, colheitas de superfície, composto, redução de lavoura)
• Faz gestão e rotação de pastagens
• Adota processos ecológicos naturais (fotossíntese e a microbiologia do solo saudável) para dar vida à terra degradada e para fixar carbono no solo)
O grande gamechanger é que, tornando os nossos solos mais férteis, eles absorvem mais dióxido de carbono, até ao ponto de que essa absorção é superior às quantidades emitidas.
No fundo, estas práticas não têm nada de novo. A grande alteração é haver neste momento métricas e estudos a acompanhar estas alterações e a perceber o impacto no rendimento das colheitas, o impacto da seca, e a absorção do dióxido de carbono.
Além disso, este tipo de agricultura pode tornar-se 78% mais rentável do que a agricultura convencional.
ECONOMIA REGENERATIVA & CONSUMO
Com base na agricultura, podemos mudar a forma como produzimos e a forma como consumimos, revertendo as alterações climáticas, e criando em simultâneo um futuro económico regenerativo.
A sustentabilidade esteve sempre relacionada com o consumo consciente, limitando e inibindo o consumo de forma a proteger o nosso planeta. O que é certo é que os consumidores estão cada vez mais ávidos de exercer o seu poder quando consomem.
E com a Regeneração os consumidores têm nas suas mãos o poder de reabilitar o planeta, uma compra de cada vez, e neste sentido, as marcas com propósito podem ter a oportunidade de liderar o caminho. E serão essas que ganharão pontos junto da opinião pública e, consequentemente, dos seus consumidores.
As marcas de moda estão a ser as primeiras a fazer esta transição no cultivo das matérias primas que utilizam para formas de cultivo regenerativas. Esta transição nota-se nos campos de algodão, linho, cânhamo, entre muitos outros. Mas noutras áreas também começamos a assistir a esta transição, como por exemplo, na alimentação à base de plantas provenientes de agricultura regenerativa
Assistimos cada vez mais ao consumo de mãos dadas com o ativismo climático.
O QUE JÁ ESTÁ A ACONTECER:
Eventos
A IMEX, uma empresa inglesa de gestão de eventos, lançou recentemente um software para organização de eventos que elimina o desperdício e a poluição, focando-se no rejuvenescimento dos sistemas naturais e nas comunidades.
Turismo
Na Nova Zelândia, o turismo quer apostar cada vez mais na melhoria da qualidade de vida da sua comunidade, promovendo o “slow travel”, promovendo temáticas de viagem que envolvam plantação de árvores e proteção dos ambientes marinhos.
Trabalho
Novas metodologias conseguem fazer com que fábricas possam ter um impacto positivo no ambiente, através da fixação do carbono no solo, transformando uma pegada zero num ecossistema de alta performance.
Este novo método, chamado de Factory as a Forest, permite re-imaginar as fábricas como sendo ecossistemas, fazendo com que as empresas evoluam como as florestas.
O QUE TU PODES FAZER JÁ
✓ Ver o documentário “Kiss The Ground” na Netflix
✓ Acompanhar o trabalho desenvolvido pela Patagonia, que tem sido um exemplo a seguir, e que tem até uma Certificação de Regeneração Orgânica a que as empresas se podem candidatar
✓ Partilhar a importância deste novo modelo de “vida” com os teus contactos
Sem dúvida que me parece o futuro!
Estou muito otimista com esta nova/antiga maneira de ver o amanhã, e de perceber que em todas as áreas da nossa vida se poderá manifestar, e em que todas elas se relacionam. É mesmo incrível ver a Natureza a tirar partido de si própria para se regenerar e reverter as alterações climáticas.
Acredito que o futuro será risonho, e que iremos criar um entendimento real com a natureza, em que trabalhamos lado a lado para nos preservarmos.
Referências:
• https://info.trendwatching.com/make-shift/
• https://blog.interface.com/factory-forest-reimagining-facilities-ecosystems/
• https://rodaleinstitute.org/wp-content/uploads/rodale-white-paper.pdf
• https://www.regenfriends.com/regencustomerinsights
• https://climatejusticealliance.org/regenerativeeconomy/
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