RPET: Um guia para o plástico reciclado

rPET: Um guia para o plástico reciclado

 

Em tempos, o plástico foi visto como uma das maiores invenções de sempre, tendo vindo trazer uma nova facilidade às vidas de todas as pessoas. Desde os sacos de compras aos copos e embalagens de takeaway, as garrafas de água e de sumos e toda uma panóplia de opções mais leves (mas que ainda assim não se danificavam facilmente, ao contrário do papel), o plástico descartável passou a fazer parte da vida da maioria dos consumidores.

O problema foi que, no momento da invenção, e nas consequentes décadas seguintes, o plástico foi sempre considerado um material pronto a usar e deitar fora. O primeiro centro de reciclagem de plástico só foi construído em 1972[1], nos Estados Unidos da América, e apenas no final dos anos 80 é que vários programas de reciclagem começaram a ser iniciados noutros países. Até lá, milhões e milhões de quilos de plástico já tinham sido incorretamente colocados em aterros, atirados para a natureza e até para vias marítimas.

Hoje em dia, a reciclagem é um processo já amplamente reconhecido por todo o mundo. Apesar de, infelizmente, ainda existirem muitas pessoas que não aderem ao processo da reciclagem, esta pode ser uma boa forma de dar uma segunda vida aos materiais já existentes, em vez de produzir novos produtos a partir de materiais virgens. Sabemos que a opção deve passar cada vez mais por reduzir o nosso consumo, especialmente no que toca a plásticos de utilização única. Mas, afinal, o que podemos fazer com o plástico que já existe no mundo?

Na busca de um novo sentido para as toneladas de plástico descartável existente em todo o mundo, vemos cada vez mais produtos que são feitos, por exemplo, de garrafas recicladas – nas etiquetas, vemos que são feitas de material rPET.

Mas afinal, o que é o rPET? Como é feito e o que lhe acontece no final da sua vida útil? Vamos começar pelo início.

 

1.  O QUE É O rPET?

rPET é apenas uma sigla para Recycled Polyethylene Terephthalate (Polietileno Tereftalato Reciclado). O Polietileno Tereftalato (PET) é um tipo de resina plástica, e também uma forma de poliéster. Por ser um tipo de plástico que pode ser processado diversas vezes, tornou-se extremamente popular na produção de embalagens: podes encontrá-lo nas garrafas de bebidas, embalagens de saladas e alimentos congelados, caixas de cosméticos, garrafas de molhos e até embalagens de detergentes. Aliás, há uma forma muito simples de identificares o PET durante as tuas compras: nas embalagens, só tens de procurar por este símbolo:

File:Recycling pet.svg - Wikimedia Commons

O PET Também é muito comum devido às suas propriedades: transparente, incrivelmente durável, resistente a estilhaços, mas mantendo sempre uma leveza inquestionável. Mas, se até agora só encontras factos positivos neste material, é importante relembrarmos a sua origem. O PET é proveniente do petróleo bruto, cujo processo de extração é profundamente prejudicial para o meio ambiente. É por isso que se torna tão importante o seu reaproveitamento ao máximo.

Quando aquecido a temperaturas adequadas, o PET amolece, funde e pode ser transformado numa nova forma. Ou seja, para além de ser um dos plásticos mais comuns no mundo, é também dos mais fáceis de reciclar.

Daí nasce então o rPET – PET reciclado.

 

2. COMO É O PROCESSO DE RECICLAGEM DE UMA GARRAFA PET?

A viagem pelo mundo do PET reciclado inicia-se no momento em que colocas uma garrafa PET no ecoponto. Acabaste de dar início a um processo de reaproveitamento de materiais!

Essa garrafa será depois encaminhada para uma instalação de recuperação de material, onde é separada de outros tipos de plástico. Depois, é enviada para instalações específicas de reciclagem de PET. Após chegarem ao seu destino, todas as garrafas são lavadas, descontaminadas, e depois são classificadas de acordo com a cor. É aí que são moídas (transformadas naquilo que se chama de ‘flocos’) e vendidas como matéria-prima para fazer produtos como roupas, tapetes, mochilas, etc. Neste estado, o PET torna-se rPET.

Gráfico 1. Processo de reciclagem de um produto PET. Este gráfico mostra que o rPET pode ser reciclado infinitas vezes, tornando-se num circuito fechado.

Para teres uma ideia generalizada das quantidades necessárias para produção de novos produtos a partir de embalagens PET, podemos dizer-te que cinco garrafas de sumo são suficientes para gerar material para uma t-shirt XL.[2]

 

3. QUAIS SÃO AS VANTAGENS DE UTILIZAR PRODUTOS rPET?

Ao utilizar um produto feito de plástico reciclado, estás a dar uma segunda vida a um material que não é biodegradável e que, por consequência, acabaria mais cedo ou mais tarde num aterro ou nos oceanos.

O plástico é um material incrivelmente resistente (daí, a sua dificuldade em degradar-se no ambiente); por isso, sabemos que é um produto durável, e com uma capacidade para se transformar e produzir novos produtos a partir de si mesmo. Uma Mochila Fjällräven dá vida a 11 garrafas de plástico, por exemplo, e uma Mochila Lefrik pode reaproveitar entre 18 a 48 garrafas de plástico (dependendo do modelo).

Por outro lado, e apesar de o rPET ser tão duradouro como um plástico normal, são necessários menos recursos para o produzir. A produção de rPET usa menos 59%[3] de energia em comparação com a produção de poliéster virgem. Além disso, deixamos de produzir mais plástico para produzir novos produtos – utilizamos o que já temos para fazer novas coisas. Isto evita a exploração repetida de recursos como gases naturais e petróleo, ambos utilizados no fabrico de plástico.

 

4. QUAIS SÃO OS DESAFIOS TRAZIDOS PELO rPET?

Acima mencionámos que o rPET é infinitamente reutilizável – e esta afirmação mantém-se verdadeira, desde que este material não seja misturado com outros. Isto significa que podes reciclar uma mochila que seja feita inteiramente de rPET – basta colocá-la num ecocentro. Se tiver algodão incluído, a separação também ainda é possível. Mas, no caso de se misturar outros materiais com o rPET, a separação e devida reciclagem já não serão tão fáceis.

Por outro lado, cada processo de reciclagem acaba por deixar o material menos duradouro – isto implica que, por cada reciclagem de um produto rPET, o seguinte produto feito com esse material terá de ser de menor qualidade. Este não é, necessariamente, um problema do rPET, mas sim das tecnologias de transformação utilizadas atualmente, que ainda não estão preparadas para aproveitar o material a cem por cento. No entanto, as empresas de processamento de materiais têm-se esforçado para criar novos processos e formas de reciclagem que não impliquem uma degradação na qualidade do produto.

Isto relembra-nos que, infelizmente, todos os produtos que temos nas nossas mãos têm um impacto no ambiente. Seja papel, plástico, ou qualquer outro material – tudo tem um efeito no ambiente, tudo produz emissões na sua produção e no seu descarte. No entanto, aproveitar os recursos que já foram produzidos para criar novos produtos, sem ser necessária a exploração de materiais virgens, deve tornar-se cada vez mais uma opção a ter em conta.

 

[1] https://rPET.aaapolymer.com/history-of-plastic-recycling/

[2] https://fashionunited.uk/news/fashion/how-sustainable-is-recycled-polyester/2018111540000

[3] https://fashionunited.uk/news/fashion/how-sustainable-is-recycled-polyester/2018111540000