Será que as Alterações Climáticas pioram as Alergias?

Será que as Alterações Climáticas pioram as Alergias?

 

A maioria das pessoas recebe a Primavera com grande alegria. Finalmente podemos dizer adeus aos dias escuros, tristes e chuvosos, ver as flores a (re)nascer e os dias a parecerem mais longos e produtivos com a mudança da hora. Ficamos mais bem-dispostos, e tudo parece correr melhor.

Mas, além de toda essa boa disposição que se espalha pelo ar, há algo que também voa pelas nossas ruas e que nos pode deixar bem menos alegres: o pólen. Adoramos flores, mas a sua chegada e desenvolvimento traz um conjunto de grãos minúsculos (os seus elementos reprodutores) que são um verdadeiro atentado ao bem-estar do nosso nariz, garganta e olhos.

De forma simples, quando o pólen entra nas nossas vias respiratórias, é detetado pelo nosso sistema imunitário. Aí, o nosso sistema tenta combater a substância estranha produzindo histamina, e começamos a sentir vários sinais de uma reação alérgica, como tosse, espirros, olhos lacrimejantes, nariz a pingar, entre outros.

Se costumas sofrer de reações alérgicas durante a época primaveril, estes sintomas são-te bastante familiares. Mas já te apercebeste de que as tuas alergias podem ter vindo a piorar nos últimos anos? Se parecem durar mais tempo, ou se os sintomas parecem mais agressivos do que há uns anos, isso não é uma simples coincidência ou invenções da tua memória.

 

O EFEITO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NAS ALERGIAS

 

Quais são alguns dos ‘sintomas’ mais óbvios e visíveis das alterações climáticas no nosso dia a dia? Temperaturas mais quentes no verão e dias quentes a chegarem mais cedo do que esperado são alguns dos mais habituais. Consequentemente, qual é o fator que mais influencia a chegada do pólen? O calor.

Com este pensamento, conseguimos rapidamente chegar à conclusão de que as alterações climáticas podem afetar profundamente a época das alergias, e torná-las ainda mais difíceis para os alérgicos.

Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América, chegou à conclusão de que nas últimas três décadas, a época das alergias começou 20 dias antes do que até então era habitual, duraram 10 dias a mais do que era suposto e teve um aumento de 21% na quantidade de pólen presente no ar[1].

Para realizar este estudo, foram usados dados de 60 estações de contagem de pólen nos EUA e no Canadá, entre 1990 e 2018. A conclusão foi que o aquecimento global está a fazer com que o “relógio interno” das plantas e árvores inicie a produção de pólen mais cedo.

Mas este estudo não foi a primeira vez em que este fenómeno foi verificado. Anteriormente, tinham sido já feitos estudos de menor escala (geralmente em estufas), onde o efeito do aumento de temperatura se refletia numa alteração considerável na duração da produção de pólen[2].

 

O AUMENTO DA TEMPERATURA É O ÚNICO IMPULSIONADOR DESTE AUMENTO?

 

Curiosamente, conforme vários estudos vão sendo publicados sobre a temática, descobrimos novos dados. E enquanto sabemos que, naturalmente, o aumento da temperatura terá um efeito de aumento da produção de pólen, existe outro fator que pode causar um efeito ainda mais visível: as emissões de dióxido de carbono.

As temperaturas altas prolongam a estação de aquecimento, dando às plantas mais tempo para emitirem pólen e se reproduzirem. Já o dióxido de carbono alimenta a fotossíntese, o que faz com que as plantas cresçam mais, e mais rapidamente, produzindo assim mais pólen.

Um estudo publicado na revista Nature Communications em março de 2022 descobriu que os EUA poderão enfrentar um aumento de até 200% no pólen total, se as emissões de dióxido de carbono se mantiverem altas[3]. Neste cenário, a temporada do pólen terá início 40 dias mais cedo (o que poderia significar o início da época das alergias em janeiro) e irá durar até 19 dias a mais do que nos dias de hoje.

 


IMG 1. Os mapas da esquerda mostram a duração média da produção de pólen em três tipos de plantas: plátanos, bétulas e ambrósias. Os mapas da direita mostram o aumento (em total de dias) esperado se as emissões de dióxido de carbono continuarem elevadas. Fonte: Zhang e Steiner, 2022

 

Além disto, também sabemos que os efeitos das mudanças climáticas (mudanças nos padrões de precipitação, mais dias sem geadas, temperaturas do ar sazonais mais quentes e mais dióxido de carbono) podem influenciar não só os níveis de exposição ao pólen, mas também o risco de apresentar sintomas de alergia e a gravidade desses mesmos sintomas[4].

Por fim, a poluição do ar também afeta as alergias, mas não da forma que poderias pensar. Quando as partículas poluentes no ar se ligam aos grãos de pólen, podem fazê-los explodir em pedaços ainda mais pequenos, que têm mais facilidade em entrar no trato respiratório.[5]

 

COMO EVITAR REAÇÕES AO PÓLEN?

 

Além de usares anti-histamínicos (agora já sabes a origem do nome!), podes tentar evitar ao máximo a exposição ao pólen. Dentro de casa, não te esqueças de aspirar com regularidade chão e superfícies que apanhem mais pó e partículas. Mantém as janelas fechadas em dias de alta contagem de pólen (podes verificar os alertas locais do Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e evita sair à rua entre as 10h e as 14h.

Se tiveres mesmo de sair durante esse horário, não entres em casa com os sapatos da rua e tira a roupa imediatamente para lavar. Agora que estamos todos muito mais habituados ao uso de máscara facial, pode ser uma boa ideia usares uma para ir à rua, mesmo que não tenhas de ir a um espaço fechado. Usar óculos escuros também é uma boa forma de evitar que o pólen toque na zona dos olhos.

Infelizmente, ainda não vemos um futuro muito positivo para quem mais sofre de alergias relacionadas com pólen, por isso o nosso foco deve ser em tentarmos proteger-nos mais destes alergénios!

 

Fontes:

https://theconversation.com/pollen-season-is-getting-longer-and-more-intense-with-climate-change-heres-what-allergy-sufferers-can-expect-in-the-future-179158

[1] FONTE: https://www.pnas.org/doi/full/10.1073/pnas.2013284118

[2] Fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s00497-016-0282-x

[3] Fonte: https://www.nature.com/articles/s41467-022-28764-0

[4] Fonte: https://www.cdc.gov/climateandhealth/effects/allergen.htm

[5] Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5941124/