A estreita relação entre Saúde Mental, Alimentação e Exercício Físico

A estreita relação entre Saúde Mental, Alimentação e Exercício Físico

 

A 10 de Outubro celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental, e sendo eu psicóloga de formação, é uma data que não gosto que passe em branco.

Sinto que nunca se falou tanto de saúde mental como agora.

A pandemia veio inflamar o estado da saúde mental no nosso país e no mundo; a Guerra na Ucrânia veio aumentar os níveis de incerteza e de ansiedade; e, a juntar a tudo isto, a crise climática vem agravar ainda mais os níveis de impotência.

A angústia tem-se apoderado muito de todos nós ao longo destes últimos 3 anos, e tenho-me apercebido de muitos casos de burnout nos últimos meses. Não consigo atribuir isso ao acaso.

Segundo o Infarmed, entre janeiro e agosto de 2020, foram vendidas mais de 6,5 milhões de embalagens de antidepressivos, mais 5% em relação a 2019. Eu própria me incluo nestas estatísticas, e que tristeza avassaladora me causou ser obrigada a render-me à medicação. Por perceber que estava sem meios para fazer frente a um medo incontrolável que se apoderou de mim, e que estava também a ter repercussões físicas que afetaram bruscamente a minha qualidade de vida e a minha tão querida estabilidade.

De repente, o mundo mudou abruptamente, e vemo-nos assoberbados porque depois de tantos confinamentos queremos aproveitar a vida, queremos estar com a família e os amigos, queremos passear, ir de férias. Mas a Guerra e a inflação continuamente a subir, os combustíveis a aumentar, deixam-nos numa posição em que a nossa vontade se vê encurralada porque não podemos aumentar as nossas despesas, com as experiências que nos dão prazer.É essencial que a sociedade tenha como prioridades a prevenção e a promoção de cuidados relacionados com a saúde mental, porque ela está em risco.

No meu caso específico, o exercício físico, uma melhor alimentação e a conexão com a Natureza têm sido cruciais para o meu equilíbrio. Os passeios, as corridas, tudo aquilo que me permite respirar fundo, têm-me ajudado muito desde os ataques de ansiedade por que passei.

Um estudo da Universidade Médica de Exeter descobriu que 2h por semana em contacto com a natureza têm efeitos muito benéficos para a nossa saúde. Pessoas sem nenhum contacto semanal com a natureza têm mais problemas de saúde e consideram-se mais infelizes.

Curiosamente, em Portugal, está a ser desenvolvido por um grupo de ambientalistas um modelo de promoção de saúde mental assente em retiros ecológicos. A comunidade, integrada no movimento “Primal Gathering”, promove ações de reflorestação e de restauração de ecossistemas. Um projeto que nasceu em 2018 pelas mãos de Nicole Anna Maria Bosky e que, desde então, já reuniu cerca de 4 mil pessoas em mais de 45 ações de valorização da saúde mental. Os retiros envolvem o contacto com a natureza em sessões de relaxamento ou workshops direcionados ao desenvolvimento pessoal. A expectativa do grupo é que, nos próximos 5 anos, sejam plantadas 10 mil árvores em diferentes zonas do país. Uma excelente iniciativa que pode facilitar esta reconexão das pessoas com a Natureza.

Com a aproximação ao Dia da Alimentação, podemos também fazer uma analogia entre a Saúde Mental e a Alimentação Saudável.

Segundo dados da ONU, cerca de 3000 milhões de pessoas não têm acesso a alimentação. Decerto que grande parte deste número se deve à falta de acesso básico aos alimentos. Mas pergunto-me porque existem tantos alimentos prejudiciais à nossa saúde tão disponíveis no mercado, para adultos, mas mais grave ainda, para crianças e jovens? É difícil resistir a estes alimentos que sabem bem, quando estão em todo o lado, são baratos, e raramente têm concorrência saudável nas prateleiras ao seu lado.

Questiono-me também porque não existe aconselhamento por parte de profissionais de nutrição no sistema de saúde nacional. Porque não existe um plano individual com consultas regulares com estes especialistas?

A par da alimentação, temos o exercício físico.

Porque não pensar numa política pública de incentivo à atividade física regular? Atribuir benefícios por frequentar um ginásio, ou por praticar alguma modalidade de forma a torná-los mais atrativos. Não só a fisioterapia deveria ter prescrições médicas. Existem tantos casos clínicos que exigem fazer desporto.

Sei que a população mundial está cada vez mais desperta para estas questões e que, de um modo geral, se preocupa cada vez mais com o seu bem-estar. Mas há ainda uma grande fatia da população que nem sequer coloca estes temas no seu topo de prioridades.

Sabendo que ter uma alimentação saudável, e uma prática de exercício físico regular promovem um estilo de vida mais saudável, certamente teríamos menores índices de doença e consequentemente menos custos hospitalares e menos doentes crónicos, taxas mais reduzidas de internamento, cidadãos mais entusiastas e felizes.

Quando fiz o meu curso de shiatsu, fiquei muito surpreendida quando o professor nos dizia que, no Japão, as pessoas podiam fazer consultas de shiatsu no sistema nacional de saúde como medida preventiva da doença.

Foi nesse dia que percebi que prevenir é o melhor remédio, e todos nós devíamos ter estes serviços como garantidos ao longo das nossas vidas.