A Miragem da Reciclagem

A Miragem da Reciclagem

 

No passado dia 17 de Maio - Dia Internacional da Reciclagem - a equipa da Pegada Verde visitou o Centro de Triagem do Oeste, propriedade da Valorsul. Porque estamos muito perto geograficamente, fazia sentido visitar este local e ficar a conhecer o que lá se passa.

Carlos Mota, responsável pela Comunicação e Sensibilização da Valorsul, foi o nosso guia durante esta manhã, e que interessante foi conhecer o que fazem, porque o fazem e perceber os grandes obstáculos que enfrentam. Com muita pena, percebemos também que fomos a última empresa a poder fazer uma visita às instalações neste ano de 2022, pelo limite anual que fixam para este tipo de iniciativas.

Ainda que consiga perceber que as visitas guiadas não são o seu negócio, é serviço público o que estão a fazer, e recomendo a quem possa, fazer esta visita. Abre-nos os horizontes a muitos níveis.

Faria sentido o Ministério do Ambiente, ou mesmo a Sociedade Ponto Verde, enquanto entidade reguladora, poderem desenvolver em parceria com estas entidades, um projeto que se pudesse dedicar a esta área educativa e de proximidade entre as empresas/indústrias e fazer esta gestão de visitas por grupos de cidadãos, organizações ou empresas que estejam interessados em conhecer mais sobre o processo de reciclagem em Portugal, os grandes obstáculos que enfrentam, e aquilo que são as suas necessidades para evoluir. De certeza que teríamos mais pessoas envolvidas neste processo.

Neste centro de tratamento faz-se a recolha seletiva e triagem dos principais tipos de embalagem de vidro, cartão e plástico em 19 municípios da Grande Lisboa e da região Oeste. O que acontece é que têm vindo a notar um decréscimo da quantidade de resíduos recolhidos nos ecopontos espalhados por esta sua zona de atuação, o que nos faz pensar que a utilização destes resíduos tenha de facto diminuído, talvez pelo impacto da diminuição do consumo provocado pela pandemia, ou talvez porque grande parte da população continua com hábitos de reciclagem ainda muito aquém do ideal.

Segundo a Associação Ambientalista Zero, em Portugal, apesar de termos a funcionar o pagamento dos sacos de plástico nos supermercados, em 2018 produzimos 600 mil toneladas de plástico, das quais apenas 72 seguiram para os ecopontos[1].

Sabemos que a reciclagem é o último degrau a considerar nos 7 R’s da Sustentabilidade, mas ela devia ser obrigatória. E como noutros países da Europa, deveria haver penalizações para quem não a cumpre, seja ao nível individual, seja ao nível das empresas. O facto de termos Ecopontos comunitários acaba por não facilitar, porque “não são de ninguém”, e devíamos olhar para os exemplos de outros países da Europa, como por exemplo a Alemanha, em que existem penalizações para quem não coloca os resíduos nos contentores próprios, e que estão à porta de cada prédio e identificados.

No que diz respeito às empresas que colocam no mercado embalagens, estas pagam pela quantidade e complexidade dessas mesmas embalagens, o que tem vindo a contribuir para o desenvolvimento de novas embalagens mais simples e de menor densidade. Em Portugal, tem-se feito este caminho, mas a regulação acaba por ser ainda muito superficial, na minha opinião.

O que sabemos é que atualmente é produzido cerca de 1kg de resíduos por dia por cada habitante de Portugal – fico a pensar que continua a ser muito.

Claro está que grande parte deste peso se deve ao desperdício alimentar. Um bom exemplo que temos é na Coreia do Sul, onde quanto mais lixo orgânico se produz, mais taxas se pagam.

Não que seja a favor de taxas e penalizações para tudo, mas compreendo que para alterar hábitos e gerar compromisso, por vezes tenha de ser necessário. Oiço muitas vezes o meu pai dizer que somos o país das “taxas e tachinhos”, mas se as taxas forem bem utilizadas e os tachinhos abandonados, teremos com certeza um país melhor, com boas práticas que podem servir de exemplo e de inspiração para outros.

[1] Fonte: https://expresso.pt/sociedade/2020-02-04-Portugal-apenas-reciclou-12-de-plastico-em-2018-diz-Zero