Dia da Higiene Menstrual: Podemos falar sobre o período?

Dia da Higiene Menstrual: Podemos falar sobre o período?

 

A 28 de Maio celebra-se o Dia da Higiene Menstrual. A menstruação é um fenómeno natural, sem o qual a vida humana não seria sequer possível. Mas, estranhamente, esta data só se começou a celebrar a partir de 2014. Ou seja, significa que algo tão importante para a humanidade passa muitas vezes despercebido, ou não é sequer falado.

Em pleno século XXI, a ideia de uma pessoa menstruar continua a ser um tabu. Não sabemos falar de menstruação sem haver uns risos pelo meio, ou quem ache que sangrar uma vez por mês é sinónimo de nojo, e de sujo. O próprio conceito de uma pessoa menstruar, e não uma mulher – porque tem período quem nasceu com o sexo feminino, e se continuou a identificar com o género feminino durante a sua vida, mas também quem nasceu com o sexo biológico feminino, e se identifica com outro género, seja ele masculino ou não-binário.

Infelizmente, estes tabus e medos de falar resultam em muito mais do que apenas uma sociedade desconfortável. Quando não falamos num assunto, não entendemos quais as dificuldades associadas a ele, não sabemos quando existe sofrimento associado, ou complicações que vão além das nossas experiências. Por isso, o Dia da Higiene Menstrual tem como principal mote falar sobre a menstruação e trazer para a mesa conversas que nunca passaram sequer pela cabeça de muitos de nós.

 

SOBRE O DIA DA HIGIENE MENSTRUAL

O Dia da Higiene Menstrual é um movimento global que reúne as vozes e acções de organizações sem fins lucrativos, agências governamentais, indivíduos, o setor privado e os meios de comunicação para promover saúde e higiene menstrual para todas as pessoas menstruantes do mundo.

Os objetivos deste dia são:

       • Chamar a atenção para os desafios e dificuldades que muitas mulheres e crianças/adolescentes enfrentam durante a menstruação;

       • Chamar a atenção para soluções positivas e inovadoras que devem ser tomadas para enfrentar esses desafios;

       • Catalisar um movimento global crescente que reconheça e apoie os direitos das mulheres e construa parcerias a nível nacional e local;

       • Criar um diálogo político e defender ativamente a integração da gestão da higiene menstrual nas políticas e programas globais, nacionais e locais.

Mas nós acreditamos que as preocupações com a menstruação não devem (nem podem!) limitar-se apenas ao Dia da Higiene Menstrual. Existem mais 364 dias num ano em que milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam os mais variados desafios relacionados o período e a menstruação.

 

FACTOS

       • 48% das mulheres entre os 14-21 anos no Reino Unido sentem-se envergonhadas com os seus períodos;[1]
       • 40% das mulheres entre os 14-21 anos no Reino Unido utilizam papel higiénico em vez de produtos menstruais;[1]
       • 1 em cada 10 meninas em África faltam à escola porque não têm acesso a produtos sanitários ou porque não há casas de banho seguras na escola;[2]
       • No Quénia, 50% das raparigas em idade escolar não tem acesso a produtos sanitários;
       • 12% dos 355 milhões de mulheres na Índia não tem capacidade económica para adquirir produtos de higiene menstrual.[2]

 

Quando vemos números como estes, facilmente ficamos chocados – mas também temos a tendência a desvalorizar, pois tudo fica tão longe de nós, em países que estão a continentes distantes das nossas casas. A verdade é que tudo isto acontece também bem perto de nós, ao lado das nossas casas. A pobreza no período é um dos assuntos mais urgentes de resolvermos na nossa sociedade – afinal, ninguém escolhe menstruar.

Portugal não é exceção à regra quando falamos nestes números. Muitas são as pessoas em situações difíceis e precárias, que não têm rendimentos suficientes para adquirir produtos de higiene menstrual, ou que não têm acesso a água para fazerem de forma segura a sua higiene. Especialmente em momentos de crises económicas (por exemplo, as dificuldades económicas que foram geradas pelo Covid-19, que forçou muitos negócios a fazer despedimentos, ou mesmo a fechar portas), o número de mulheres em situações perigosas aumenta exponencialmente.

É no meio de uma pandemia, com milhares de mulheres portuguesas em situações de desespero, que nasce a necessidade de criar um projeto que as proteja e ajude.

 

#TODASMERECEMOS

O projeto #TodasMerecemos nasce em Portugal com o objetivo de intervir diretamente em comunidades mais suscetíveis, sejam pessoas em situação de risco ou em exclusão social, de forma a contribuir para que a menstruação deixe de ser uma desvantagem. Serão facilitados os acessos a produtos de higiene menstrual mais saudáveis e ecológicos para as mulheres, como é o caso de copos menstruais, pensos reutilizáveis ou, no caso de mulheres sem acesso a água, produtos de higiene biodegradáveis como pensos e tampões.

Serão também entregues cabazes adaptados às necessidades das mulheres identificadas por instituições e organizações, cabazes esses que irão não só incluir produtos de higiene menstrual, como também produtos de higiene pessoal e limpeza, como champôs, sabonetes e detergentes.

Este projeto solidário, que integra a ONGD Corações com Coroa e que promove os direitos e sustentabilidade da vida menstrual, é uma iniciativa de Isabel Abreu (atriz), Joana Seixas (atriz e ativista) e Joana Guerra Tadeu (ativista), e conta com o apoio da Pegada Verde, da Lunette Portugal (marca que distribuímos) e da NAUA (marca própria da Pegada Verde).

Enquanto parceiros da #TodasMerecemos, iremos contribuir diretamente nestes cabazes e consequentes ações solidárias levadas a cabo pelo projeto. Vamos distribuir 300 Copos Menstruais Lunette e Champôs Sólidos NAUA a mulheres carenciadas e em situações precárias. Afinal, sabemos que a mudança só se dá quando estamos ativamente envolvidos, quando nos mexemos e fazemos acontecer!

 

[1] Fonte: https://edition.cnn.com/2018/10/03/health/uk-period-poverty-asequals-intl/index.html

[2] Fonte: https://www.actionaid.org.uk/our-work/womens-rights/period-poverty