O Nascimento e Crescimento da Slow Fashion

O Nascimento e Crescimento da Slow Fashion

 

As modas vão e vêm, e com elas, as lojas de roupa produzem milhares de peças de vestuário que são usadas apenas durante uma determinada época. Na estação seguinte, começa a procura desenfreada por mais roupa, enquanto a que já estava criada fica abandonada no fundo da gaveta, ou vai rapidamente parar ao lixo. Estes são os princípios da fast fashion – e a slow fashion vem propor o oposto.

Todos os anos, cada cidadão europeu compra aproximadamente 16kg de roupa – o que se reflete em 400% mais do que comprávamos há duas décadas*. E para satisfazer a rápida produção de roupa existem, neste momento, cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo a trabalhar em fábricas de produção. A fast fashion (“moda rápida”) é em tudo semelhante à fast food que todos conhecemos. E da mesma forma que existe uma preocupação cada vez maior com a qualidade da comida que ingerimos, e a sustentabilidade da sua produção, o mesmo tem vindo a acontecer com a roupa que vestimos.

O termo Slow Fashion está cada vez mais presente nos nossos ouvidos, mas, na verdade, só em 2007 é que começou a ser discutido, após um artigo publicado por Kate Fletcher no jornal The Ecologist. Este movimento foca-se na importância das roupas que vestimos terem cada vez mais um lado de preocupação ambiental, assim como uma maior longevidade e preocupação ética. Por esses motivos, a slow fashion não é apenas um movimento que defende comprar menos e melhor – é um movimento muito mais abrangente.

A indústria da moda não está a desacelerar – antes pelo contrário, tem continuado a crescer cada vez mais, e é, neste momento, responsável anualmente por uma pegada carbónica de 1,7 biliões de toneladas de CO2. Optar pela slow fashion no momento de vestir não, vai, por essa razão, passar apenas por comprar de marcas mais sustentáveis. Passa por comprarmos menos, escolher produtos mais duradouros e, sempre que possível, optar por produtos em segunda mão, ao invés de optar por novos recursos. E, acima de tudo, é importante estarmos cada vez mais informados sobre as escolhas que fazemos.

WHO MADE MY CLOTHES?
O movimento “Who Made My Clothes?” surgiu em Inglaterra em 2013 nas mãos de duas mulheres – Orsola de Castro, designer de roupa, e Carry Somers, que procurou dedicar mais tempo a conhecer melhor a indústria da moda após o colapso da fábrica Rana Plaza no Bangladesh. Este edifício alojava quatro fábricas de roupa, com cerca de 5000 empregados, e apresentava vários problemas na sua construção. No dia 23 de abril de 2013, começaram a aparecer rachas nas paredes; no entanto, os empregadores declararam que o prédio era seguro, e os trabalhadores tiveram de comparecer no edifício, o que resultou na queda da fábrica no dia seguinte. Resultaram 1127 mortos.

Orosola e Carry criaram a Fashion Revolution – dedicaram-se a fazer workshops, a educar e informar cada vez mais pessoas sobre a indústria da moda, e os seus problemas éticos adjacentes. E com esta organização, nasceu o movimento “Who Made My Clothes?” (em português, “Quem fez as minhas roupas?”). Cada participante é encorajado a contactar empresas de moda por email e redes sociais e fazer apenas uma pergunta: quem fez a sua roupa? É uma forma simples, mas eficaz, de chamar as grandes marcas internacionais a prestar contas e a serem mais transparentes sobre o fabrico das suas roupas e as condições laborais dos seus trabalhadores.

PAY UP
Em 2020, o mundo sofreu uma reviravolta gigante com a chegada do vírus COVID-19. Muitas marcas tiveram de se reinventar, e, no caso da indústria da moda, houve uma grande quebra na aquisição de roupa. As lojas fecharam portas, e a fast fashion, conhecida por lançar novas coleções todas as semanas, ficou em apuros. Como resultado, várias marcas ocidentais cancelaram as suas encomendas a fornecedores asiáticos e recusaram-se a pagar pelos produtos, de forma a evitar um prejuízo ainda maior. Isto forçou várias empresas a fecharem, deixando os funcionários (muitos deles mulheres) em situações debilitantes.

Só no Bangladesh, a situação afetou mais de 2 milhões de trabalhadores, com prejuízos na ordem dos três biliões de dólares.

No lançamento da campanha “Pay Up”, surgiu uma petição que exigia que as marcas mais influentes do mundo cumprissem as suas obrigações contratuais e apoiassem os trabalhadores das fábricas. Esta campanha foi catapultada por vários ativistas e organizações por todo o mundo.

COMO OPTAR POR SLOW FASHION?
A Slow Fashion não pode ser olhada apenas como uma opção mais ética. Quando quiseres optar por roupas mais sustentáveis, e uma moda mais consciente, deves procurar sempre pelos seguintes fatores em conjunto – pois só assim podem oferecer-te uma peça verdadeiramente slow.

SUSTENTÁVEL: a moda consciente pressupõe uma preocupação com a natureza, e uma produção que não tem efeitos extremamente negativos no ambiente. Procura por marcas que utilizam materiais e recursos locais, e que, por isso, reduzem o impacto do transporte. Procura também materiais mais sustentáveis, evita roupa feita de poliéster (pois libertam microplásticos que acabam nos nossos cursos de água) e opta, quando possível, por roupa em segunda mão.

ÉTICA: os direitos dos humanos e dos animais devem sempre ter sidos em conta. Quem faz as tuas roupas deve ter direito a um salário justo para as suas competências e trabalho. Evita materiais feitos com recurso a animais, a não ser que sejam desperdício de outras indústrias.

DURADOURA: mais do que comprar algo sustentável e ético, a melhor roupa é aquela que já não tens de comprar. Ao adquirires peças de qualidade, que duram uma vida (ou várias!), vais reduzir o consumo e, por esse motivo, conseguem ser ainda mais sustentáveis e conscientes.

Sabemos que, por vezes, pode ser um verdadeiro desafio encontrar roupa que se enquadre nas mudanças que procuras. Por isso mesmo, queremos ainda deixar-te mais uma sugestão.

O site Good On You oferece classificações de várias marcas por todo o mundo, de acordo com o seu grau de sustentabilidade. Cada marca é avaliada relativamente a vários pontos: sustentabilidade, tratamento de animais, práticas de trabalho e cuidados com trabalhadores, e a transparência da marca relativamente aos processos de produção e certificados. Podes procurar pelas tuas marcas preferidas, e ver qual a sua posição na classificação, ou ainda pesquisar por categorias e encontrar novas marcas que vão ao encontro de uma caminhada mais ética e sustentável.

O mundo está a mudar e, com ele, mudam as nossas preocupações. E um mundo mais sustentável tem, obrigatoriamente, de passar por um mundo em que cuidamos mais de nós, e dos outros.

 

Fonte: Our Good Brands, “The real impact of the fast fashion industry in the world”