O Advento da Indústria dos Cosméticos e as Embalagens Descartáveis

O Advento da Indústria dos Cosméticos e as Embalagens Descartáveis

 

A indústria dos cosméticos – desde aqueles de que necessitamos para a nossa higiene pessoal, como champôs e sabonete, até aos que usamos apenas por gosto, como a maquilhagem – é uma das maiores indústrias do mundo já há vários anos. Estima-se que, em 2020, esta indústria teve um valor de mercado de cerca de 483 mil milhões de dólares em todo o mundo, e que em 2025 estará nos 784 mil milhões.[1] É, portanto, uma indústria profundamente lucrativa, com vendas incrivelmente elevadas um pouco por todo o planeta.

E a verdade é que todos nós temos produtos cosméticos em casa; sejam eles sólidos ou líquidos, em gel ou em creme, com embalagens de plástico, de papel ou sem embalagens. Uns têm três produtos acomodados no parapeito da janela, e outros têm gavetas e armários repletos dos mais variados tipos de cosméticos. Independentemente da forma como são usados, ou como têm vindo a ser produzidos até aos dias de hoje, a partir do momento em que uma indústria se torna tão importante na vida de todos os cidadãos do mundo, ela passa a ter um impacto direto no bem-estar do planeta. É por esse motivo que a indústria da cosmética tem estado cada vez mais ‘debaixo de fogo’ e a ser escrutinada pelas suas práticas, sejam elas laborais ou ambientais.

Anualmente, a indústria cosmética produz cerca de 120 mil milhões de embalagens.[2] E o plástico não é o único resíduo deixado para trás pela indústria; as caixas são embaladas em plástico, as pastas de dentes e os cremes são cobertos em papel quando, muitas vezes, eles próprias já têm uma embalagem. Os produtos tornam-se mais caros para o fabricante e para o consumidor, e contribuem ao mesmo tempo para um maior consumo de água e uma maior emissão de CO2.

Mas não foi sempre assim. Muitos de nós temos pais e avós que ainda se recordam de usar o tradicional sabão azul e branco, e de usar muitos produtos sólidos ou até que não vinham embalados. Para percebermos o porquê de ter sido dado um passo gigante na produção de embalagens, é preciso olhar para o local que nos conta sempre tudo: a história.

 

AS GUERRAS MUNDIAIS COMO VEÍCULO DE MUDANÇA

Não há muito tempo, os produtos de higiene pessoal e de beleza não continham embalagens de plástico. Os sabonetes eram feitos em barra, os perfumes sempre embalados em luxuosos frascos de vidro, e produtos para o cabelo eram em pó ou em creme, que também vinham em pequenos frascos de vidro ou latas.

Durante a I e II Guerra Mundial, a maioria dos países impôs códigos de higiene estritos, como forma de impedir doenças de se espalharem entre os soldados.[3] Quando esses homens voltaram às suas casas e famílias, traziam com eles hábitos de higiene já enraizados, como tomar banho com maior frequência, depilação e lavagem dos dentes. Foi após o final da I Guerra Mundial que começou a surgir a indústria de “cuidados pessoais”, e que, por exemplo, o odor corporal começou a ser visto como algo que poderia causar sérios danos à carreira de uma pessoa e ao seu crescimento dentro da sociedade. Para comparação, entre 1918 e 1938, a indústria dos cosméticos aumentou em 566% apenas nos Estados Unidos.

A alteração nas rotinas diárias também mudou, por consequência, as embalagens. Enquanto antes os produtos tinham de ser adaptados a um banho no rio ou dentro de uma banheira, com o aparecimento dos chuveiros, as fórmulas foram alteradas. As empresas começaram a desenvolver produtos que podiam simplesmente correr pelo ralo (champôs e sabonetes líquidos); os produtos passaram a ser guardados logo dentro do chuveiro, e por isso tinham de se desenvolver embalagens que não se partissem ao escorregar e que aguentassem estar constantemente em contacto com água.

O plástico, em franco crescimento em pleno século XX, tinha tudo o que a indústria de beleza procurava: os plásticos podem ser moldados e transformados em embalagens leves, flexíveis e robustas. Itens que eram transportados em vidro podiam agora ser movimentados com maior facilidade; e o vidro era também um material mais dispendioso.

O plástico, por si só, tem qualidades que o transformam num material muito útil, especialmente no que toca a produtos de higiene. O problema está no uso que lhes damos – uma garrafa de champô dura apenas para os meses que o champô durar, e depois vai para o lixo. Uma caixa com sombras de olhos dura até nos cansarmos daquelas cores, até a maquilhagem passar de validade ou até acabar – e depois vai para o lixo. E, infelizmente, sabemos que de todo o plástico produzido mundialmente, apenas 9% é devidamente reciclado. [4]

 

PODEMOS MUDAR?

Hoje em dia, os produtos de higiene e cosmética enchem os supermercados e lojas que visitamos. O aumento de consumo significou, consequentemente, o aumento da produção de embalagens, o que tem tido um impacto profundamente negativo no ambiente.

Por isso, o papel da mudança está nas mãos, simultaneamente, dos consumidores e dos produtores. As marcas devem preocupar-se em eliminar as embalagens sempre que possível, ou pelo menos evitar o plástico quando uma embalagem é realmente necessária. Pode optar-se por embalagens de vidro, que é um material infinitamente reciclável, ou optar por opções de recarga, em que o cliente não necessita de voltar a comprar a embalagem original.

Enquanto consumidores, também temos o poder de escolha, de adquirir apenas os produtos que se alinham com os nossos valores – e se isso implicar adquirir apenas marcas de cosméticos sólidos, sem embalagem, ou cosméticos em embalagens recarregáveis, então estaremos a mandar uma mensagem para todas as outras marcas convencionais que ainda utilizam embalagens de plástico descartáveis.

 

O QUE PODES FAZER HOJE?

 

• Opta por soluções sólidas

Um dos grandes motivos pelos quais as opções sólidas são mais sustentáveis é porque não contêm água. Tirando a água da equação, abre-se um mundo de oportunidades, em que podes reduzir o peso do produto e eliminar a necessidade de embalagem de plástico.

• Compra melhor

A filosofia que se tem vindo a aplicar à roupa também se aplica às rotinas de pele e cosméticos. Se comprares produtos de melhor qualidade, vais ter menos necessidade de encher um armário com muitos que não são assim tão bons para ti. No que toca a produtos de pele de excelência, geralmente pouca quantidade faz um grande trabalho – por isso também vais perceber que te vão durar para muito tempo.

• Usa tudo até ao fim

Especialmente nos produtos de maquilhagem, temos tendência a mudar com muita frequência, ou a deixar produtos meio usados porque a cor já está “fora de moda” ou já não se adapta àquilo de que gostamos. Tenta combiná-los de diferentes formas para chegares ao aspeto desejado, e aposta em cores ‘eternas’, como pretos, castanhos e cremes (os chamados nudes).

 

Sabemos que nem sempre é fácil fazer mudanças na nossa rotina, mas tal como acontece nas rotinas da cozinha, ou de takeaway, o importante é começares por dar pequenos passos numa direção mais sustentável. Se ainda não conheces o mundo dos cosméticos mais sustentáveis, também sugerimos que possas dar uma espreitadela nos nossos produtos de higiene pessoal para que posas conhecer dezenas de novas opções!



[1] Fonte: https://commonthreadco.com/blogs/coachs-corner/beauty-industry-cosmetics-marketing-ecommerce
[2] Fonte: https://commercialwaste.trade/how-the-beauty-industry-is-feeding-plastic-to-you-and-the-planet/
[3] Fonte: https://www.nationalgeographic.com/environment/article/beauty-personal-care-industry-plastic
[4] Fonte: https://www.nationalgeographic.org/article/whopping-91-percent-plastic-isnt-recycled/

Outras fontes:

https://www.glamourmagazine.co.uk/article/ocean-plastic-waste-beauty-industry
https://www.glamourmagazine.co.uk/article/plastic-beauty-products-environment-ocean-impact
https://www.treehugger.com/fight-beauty-industry-waste-epidemic-5097623