O plástico é mau? A resposta não é óbvia

O plástico é mau? A resposta não é óbvia

 

Na Pegada Verde, sempre nos orgulhámos de partilhar que não vemos a sustentabilidade de forma extremista. Acreditamos nos pequenos passos e não acreditamos em julgamentos - é tão válido optar por reduzir o consumo de carne como é válido deixar de lado a água engarrafada. São ambas decisões com um impacto positivo, e podem apenas significar que duas pessoas se encontram em diferentes momentos da sua vida, e que essas mudanças fazem sentido nesse preciso momento.

Por defendermos este princípio, também vemos como muito importante a necessidade de esclarecer alguns mitos e questões que muitas vezes criam uma nuvem de incertezas no mundo da sustentabilidade.

Há uma frase que ouvimos com muita frequência, seja quando a nossa equipa viaja até eventos de sustentabilidade ou simplesmente quando lemos algumas das dúvidas da nossa comunidade nas redes sociais: o plástico é mau.

Em pleno mês de Plastic Free July, atrevemo-nos a fazer este artigo e a corrigir esta frase: nem todo o plástico é mau.

 

O verdadeiro problema do plástico

Da mesma forma que afirmamos que o açúcar não é mau - existem tipos de açúcar melhores do que outros - também podemos afirmar que o plástico não é mau. O que é verdadeiramente mau é o plástico descartável ou os plásticos compostos por ingredientes nocivos para a saúde e para o ambiente.

Basta vermos alguns dos dados mais comummente partilhados no que toca à poluição por plásticos para percebermos onde está o problema:

 

- Apenas menos de 9% do plástico produzido é reciclado;
- 40% da produção total de plástico corresponde a embalagens descartáveis;
- 14% de todo o lixo encontrado no mar/praias vem de embalagens de bebidas. Quando consideramos tampas e rótulos, o número é ainda maior.

 

[ dados: https://plasticoceans.org/plastic-pollution-research-papers/ ]

 

Mas a verdade é que o plástico foi criado por ser prático e leve para utilizar no nosso dia, e por ter muitas vezes um custo baixo de produção. E existem muitos plásticos que devem continuar a fazer parte das nossas vidas, e que são totalmente seguros!

 

Afinal, o que é o plástico?

Para começar, temos de desmistificar algo simples: não existe “o plástico”. Plástico é uma designação dada a diferentes materiais sintéticos ou semissintéticos caracterizados por serem flexíveis, leves e duráveis - ou seja, “plástico” simplesmente designa materiais que são criados e não são encontrados na natureza. Portanto, dizer que “o plástico é mau” não significa, na verdade, nada, pois estamos a falar de dezenas de materiais diferentes, com qualidades e características muito específicas. Materiais como o PVA (um ingrediente encontrado em detergentes em alguns detergentes, por exemplo) é considerado um plástico - mas é um plástico não-tóxico, totalmente solúvel em água e biodegradável.

Então, de onde surge o ódio pelo plástico?

Além da questão do descartável, alguns dos tipos de plástico mais comuns são derivados de combustíveis fósseis, o que os torna bastante poluentes, especialmente durante a fase de produção. No entanto, hoje em dia, começam já a surgir muitas alternativas mais sustentáveis, como é o caso do bioplástico - materiais sintéticos feitos a partir de matérias renováveis como óleos e gorduras vegetais e amido de milho.

 

Como devo escolher produtos com plástico?

Na hora de adicionares alguns produtos à tua rotina, o nosso conselho é que não fujas do plástico! Em algumas áreas da nossa vida, ele pode ser muito valioso e útil, pelo que devemos utilizá-lo da melhor forma possível. Para isso, existem algumas dicas que deves ter em conta antes de comprares um produto feito de plástico.

 

- Confirma se o plástico é livre de BPA (Bisfenol A). O Bisfenol A pode ser encontrado em tipos de plástico como o PVC (tipo 3) e o PC (tipo 7), por isso verifica sempre nos rótulos se o produto é livre de BPA. O BPA é xenoestrogéneo, ou seja, confunde as células do nosso corpo e comporta-se de forma semelhante à dos estrógeneos naturais, desequilibrando e modificando o nosso sistema hormonal.

- Escolhe sempre produtos feitos de plástico durável e reciclável. O polipropileno, por exemplo, é um material leve mas bastante durável, que não liberta toxinas e tem uma pegada ambiental bastante baixa, comparativamente a outros plásticos. Este material torna-se assim numa ótima opção para criar copos reutilizáveis ou marmitas. O tritan é também um tipo de plástico altamente resistente, bastante semelhante ao vidro mas consideravelmente mais leve, muito conhecido por ser usado nas garrafas de água reutilizáveis. Estes produtos são fáceis de lavar, não ganham cheiros e são muito práticos para transportar no dia a dia, ao contrário de outros materiais como o vidro.

- Se tiveres de adquirir um produto com embalagem descartável, certifica-te de que é reciclável em Portugal. Estes são os plásticos mais comuns recicláveis: PET, PEAD:, PVC, PEBD, PP, PS. No entanto, tem em atenção que nem todos estes materiais podem ser colocados diretamente no ecoponto. Alguns devem ser reciclados através do seu depósito em ecocentros.

- Opta por produtos de plástico apenas quando forem realmente úteis! Uma embalagem descartável de plástico, uma palhinha que vai durar 4 minutos na tua vida mas que vai demorar 400 anos para se decompor, um saco de plástico para transportar a tua fruta não são utilizações práticas. O plástico deve ser visto como um material durável e resistente que, por ter essas características, não desaparece facilmente do planeta. Por isso, deve ser usado em produtos que duram uma vida, e não em produtos com tempos de vida muito curtos.

 

Para concluir, relembramos aquilo que consideramos mais importante: todos os materiais têm potencial para serem maus para o ambiente, dependendo da forma como são usados. O plástico tem características muito positivas que devem ser abraçadas, mas temos de, como acontece em todas as outras áreas, ter atenção à sua produção e evitar tudo o que seja feito de forma massificada.