Parentalidade e Sustentabilidade - Como conciliar?

Parentalidade e Sustentabilidade - Como conciliar?

 

No âmbito da sustentabilidade, todos os dias tentamos melhorar as nossas escolhas, optando por soluções mais amigas do ambiente. No entanto, quando temos alguém dependente de nós para fazermos essas mesmas escolhas, será que nos aplicamos da mesma maneira em recusar descartáveis e em evitar o consumismo, por exemplo?

Quando chegamos ao mundo da maternidade/paternidade, tudo é uma novidade, havendo mesmo uma avalanche de informação. Família, amigos e até perfeitos desconhecidos parecem ter uma palavra a dizer sobre o que é melhor para o nosso bebé. “Tens mesmo de comprar um termómetro para a água do banho”, “Não vais ser capaz de passar uma noite sem um baby monitor”, “O melhor é teres um berço, uma alcofa e um ovinho também”. Se formos dar ouvidos a todos os conselhos que parecem cair do céu, a verdade é que podemos facilmente entrar numa espiral consumista.

E em relação aos descartáveis VS reutilizáveis, será que vais optar pelo caminho mais fácil? A verdade é que a privação de sono pode tornar qualquer pessoa (mesmo aquelas que estão empenhadas em tornar-se mais sustentáveis) em comodista.

Por isso, hoje vimos desmistificar esta temática da Parentalidade e da Sustentabilidade e explicar como ambas podem andar de mãos dadas, mantendo a nossa sanidade mental.

 

TER (FILHOS) OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO

 

Desde cedo que ouvimos dizer que há um envelhecimento da população portuguesa e que, para assegurar a substituição de gerações, as mulheres devem ter 2,1 filhos. Mas a verdade é que nascem cada vez menos bebés em Portugal e que os pais têm filhos cada vez mais tarde.

Os aspetos económicos e sociais são, sem sombra de dúvida, os principais culpados para esta realidade. No entanto, será que há mais razões para não termos filhos?

Falando muito resumidamente do movimento BirthStrikers – fundado pela cantora britânica Blythe Pepino – já há quem decida não ter filhos como uma forma de protesto face às alterações climáticas e à inércia por parte das forças governamentais. De facto, esta acaba por ser uma postura mais extremista, mas que visa não trazer mais crianças para o mundo enquanto não tivermos a certeza de que haverá um mundo para as gerações vindouras.

O movimento BirthStrikers é algo bastante controverso, pelo que não nos iremos alongar neste artigo. Apenas sentimos necessidade de referir a existência do mesmo, visto que é uma realidade para algumas pessoas.

 

DICAS PARA UMA MATERNIDADE SUSTENTÁVEL

 

Para quem decide ter filhos, mas quer reduzir a sua pegada carbónica, aqui ficam algumas dicas de como o conseguir:

• Filtrar, filtrar, filtrar: ter um bebé é avassalador. Ter um bebé pela primeira vez é ainda mais avassalador. Tudo nos faz sentir que não estamos preparados e que os 9 meses não vão ser suficientes para conseguirmos tratar de tudo. No entanto, antes de começarmos a ler todos os livros e blogs sobre maternidade e paternidade, é essencial termos um espírito crítico e filtrar toda a informação que nos chega. Caso contrário, vamos acabar por comprar coisas a mais ou até produtos que não são essenciais para o nosso bebé. De facto, há várias marcas a aproveitarem-se da insegurança dos futuros pais e a criar produtos que prometem facilitar a sua vida, mas a verdade é que estão apenas a criar falsas necessidades;

• O segredo está em partilhar: da mesma maneira que os segundos (e terceiros, quartos...) filhos têm coisas emprestadas dos irmãos mais velhos, porque não fazer o mesmo com os filhos primogénitos? Seja um carrinho, um berço, roupa e até brinquedos, os nossos primeiros filhos também podem receber coisas emprestadas de outros bebés que já não precisam. Os pais agradecem, principalmente a sua carteira, e os produtos de outros bebés que mal foram usados veem o seu ciclo de vida a crescer. Sabemos que pode ser tentador comprar diferentes peças de roupa para o nosso futuro bebé, mas a verdade é que grande parte nem vai chegar a ser usada. Em vez de comprar em excesso, devemos comprar de forma racional e só depois de percebermos que existe uma necessidade;

• Reutilizável em vez de descartável: este acaba por ser o tema mais sensível e mais difícil de pôr em prática. Falando em números, num primeiro ano de vida, um bebé pode gastar entre 1000 e 5000 fraldas! Se multiplicarmos estes valores pelo número de bebés que há no mundo, conseguimos ter uma ideia das toneladas de lixo que são produzidas anualmente. Para além disso, importa ter em conta que cada fralda demora cerca de 500 anos a decompor-se e que, para além das fraldas, há ainda as toalhitas descartáveis, babetes descartáveis, resguardos descartáveis... Para tentar combater, em parte, os resíduos que um bebé produz nos primeiros anos de vida, uma opção a ter em conta poderá ser as fraldas reutilizáveis. Quando as noites de sono são curtas e o cansaço acumulado é grande, pode ser tentador utilizar fraldas descartáveis. Afinal, não dão trabalho nenhum... Mas tendo em conta os valores referidos anteriormente, será que não devíamos dar uma hipótese às fraldas reutilizáveis? Hoje em dia há cada vez mais opções e são bastante práticas. Mesmo que não as utilizemos nos primeiros meses de vida de um bebé, se pudermos utilizar numa fase mais avançada, já é um passo dado;

• Natural ao invés de químico: quando pensamos num bebé, pensamos em algo frágil e totalmente dependente de nós. Como tal, pensar em dar algo com químicos e ingredientes tóxicos a uma criança parece totalmente impensável. No entanto, muitas vezes, acabamos por fazer isso a nós próprios, que deveria ser igualmente inconcebível. Quando um bebé nasce, acabamos por mudar alguns hábitos e começamos a fazer escolhas mais responsáveis em termos de produtos de higiene, por exemplo. Esta é uma excelente mudança trazida pela parentalidade e que devíamos aproveitar para aplicar a nós próprios;

• Biológico e caseiro: no seguimento do ponto anterior, o mesmo acaba por acontecer com a comida que damos aos nossos bebés (e felizmente!). Sejam frutas e legumes, acabamos por escolher produtos orgânicos e da época. No entanto, em idades mais avançadas, acabamos por começar a esquecer esta preocupação, entrando em ação os snacks e lanches rápidos. Para além de não serem as opções mais saudáveis, pecam também por virem quase sempre em embalagens de plástico. Uma sugestão é, por exemplo, fazermos os nossos próprios purés de fruta caseiros (e colocar em embalagens reutilizáveis), assim como barras de frutos secos e não só. São soluções mais saudáveis e nutritivas para os pequenotes, assim como mais amigas do ambiente;

• Brinquedos e brincadeiras: quando um bebé nasce, uma das grandes preocupações existentes passa por lhe dar estímulos contínuos, para que desenvolva as suas capacidades em toda a plenitude. Uma vez mais, com medo de pecar por não dar tudo o que um bebé precisa, podemos cair no erro de comprar mil e um brinquedos com diferentes funcionalidades, mas a verdade é que os estímulos de que um bebé precisa podem ser encontrados em qualquer lado. Seja num candeeiro, numa máquina da roupa a funcionar, numa planta, a verdade é que bebés e crianças precisam de pouco para se desenvolver e crescer (numa fase inicial). Na hora de comprar brinquedos (caso não haja a possibilidade de receber alguns emprestados), podemos cair no erro de pensar que os de plástico são melhores, pois têm mais cores e são mais dinâmicos. No entanto, um brinquedo de madeira ou de borracha natural pode surtir o mesmo efeito e são mais amigos do ambiente e do próprio bebé (por não terem BPA e outros ingredientes tóxicos). Já sabemos que os pequenotes colocam tudo na boca, por isso, se temos preocupações com os produtos de higiene que usamos e com a comida que lhes damos, também devemos ter essas mesmas preocupações com os próprios brinquedos.

 

Como vês, os caminhos são vários e não tens de te sentir na obrigação de fazer tudo. Até porque todos os pequenos passos contam, tanto para o ambiente, como para o bem-estar dos nossos filhos.

 

Fonte:

https://medium.com/leaninbangalore/sustainability-and-motherhood-an-informalguide-for-the-new-mother-9490154b65d1

https://www.parents.com/parenting/better-parenting/green/the-ultimate-guide-to-green-parenting/

https://www.sustainablylazy.com/blog/how-to-become-a-sustainable-parent

“Vida Lixo Zero”, Ana Milhazes