Qual é a forma de aquecimento mais sustentável no Inverno?

Qual é a forma de aquecimento mais sustentável no Inverno?

 

Estamos em pleno outono, e o calor dos dias longos de verão já é uma memória que começa a parecer longínqua. Nas nossas casas, começamos a desarrumar os armários e a procurar as roupas mais quentes; as bebidas frescas dão lugar a chás quentes e as mantas encontram novamente o seu lugar no sofá da sala.

Procuramos algo que nos aqueça e nos mantenha confortáveis durante o tempo que passamos em casa – e acabamos, inevitavelmente, a tentar arranjar diferentes formas de aquecer as divisões da casa. Procuramos aquecedores, instalamos sistemas de ar condicionado ou começamos finalmente a pensar em investir um pouco mais em sistemas de aquecimento mais avançados.

Seja qual for a nossa escolha, uma coisa é certa: a escolha do sistema de aquecimento para a nossa casa tem um impacto direto no nosso uso de energia. E esse impacto vai influenciar tanto as nossas emissões de gases estufa para a atmosfera, como o valor da conta de energia no final do mês. Isso significa que uma escolha errada pode custar-nos caro na carteira e no futuro do planeta.

O problema, no momento de escolher o sistema de aquecimento mais adequado, é que nem toda a informação é linear; e, como acontece em muitas áreas da sustentabilidade, existe pouco “preto no branco”, e muito “cinzento”. A opção mais certa depende muito das tuas próprias necessidades, do investimento que podes aplicar e até das condições da tua casa. Por esse motivo, a nossa intenção com este artigo é que fiques, simplesmente, a conhecer as diferentes opções disponíveis e as suas características; e que, a partir daí, possas fazer a tua escolha de forma mais informada.

Para começar, vamos aos factos.

 

UTILIZAÇÃO DE ENERGIA PARA AQUECIMENTO DE CASAS

De acordo com Jon Clift e Amanda Cuthbert[1], a nossa procura energética aumenta 3% anualmente.

63,6% da energia que utilizamos em casas europeias é direcionada para o aquecimento das divisões[2]. Mas, infelizmente, nem sempre as divisões estão construídas de forma eficiente, para manter o calor no interior. Por esse motivo, muita da energia usada para aquecer as casas acaba por sair pelas janelas de vidro único. Ou seja, se a energia acaba perdida, o sistema de aquecimento que tens em casa terá de trabalhar o dobro para manter uma temperatura confortável.

A solução? Janelas de vidro duplo. Este tipo de janelas aumenta a eficiência energética, e quando combinadas com cortinas isoladas a cobrir as janelas, resultam numa perda de calor ainda menor.

Mas, qual é o custo real deste uso de energia.

Um estudo americano de 2019 mostra que, nos Estados Unidos, 20% das emissões de gases de efeito estufa resultantes da utilização de energia vêm de sistemas de aquecimento ou arrefecimento[3]. Isto significa que, se estas emissões viessem de um país, elas seriam consideradas o 6.º maior país emissor de gases de efeito estufa, sendo maior do que a Alemanha e estando ao mesmo nível do Brasil.

No Reino Unido, em 2017, as emissões de CO2 resultantes do aquecimento de casas eram superiores a quaisquer outras emissões; as famílias do Reino Unido emitiam mais gases ao aquecer a sua casa do que a andar de carro ou de avião.[4]

Então, afinal, o que podemos fazer para diminuir a nossa utilização de energia para aquecimento das nossas casas? Vamos começar por dar-te algumas dicas simples, com formas mais tradicionais de aquecimento.

 

FORMAS TRADICIONAIS DE AQUECIMENTO

As formas tradicionais de aquecimento não requerem custos adicionais de instalação e utilização, e poupam-te na utilização de energia. Claro, não serão tão eficazes como uma fonte de energia instalada no interior da tua sala, mas são uma opção bastante sustentável e útil, especialmente quando não estamos a falar de temperaturas negativas.

1. Vestir camadas. Esta dica é mais velha do que nós, mas nunca deixa de funcionar! Atenção que este método funciona para te manter quente se escolheres as combinações corretas: as camadas inferiores (base) devem estar bem justas ao teu corpo, e devem permitir que a humidade se afaste da pele (pois a humidade vai deixar-te com mais frio). As camadas do meio atuam como isolamento, e devem prender o ar quente e manter o ar frio do lado de fora (a lã é um bom material para esta camada). Por fim, as camadas exteriores devem ser respiráveis.
2. Beber e comer bebidas/comidas quentes. Não só sabem bem, como ajudam mesmo a aquecer! As bebidas e as comidas quentes ajudam a aumentar a tua temperatura central.
3. Evitar beber álcool. Ao contrário das bebidas quentes, o álcool baixa a tua temperatura central, e deixa-te mais vulnerável ao frio.
4. Toma um banho de água fria. Pode parecer um contrassenso; mas a verdade é que os banhos de água fria melhoram a circulação, o que ajuda a manter-te mais quente.

 

Apesar destas dicas serem eficientes, sabemos que dificilmente são suficientes quando o frio ataca a sério e as temperaturas começam a bater no zero. Por isso, está no momento de te falarmos de sistemas de energia mais sustentáveis.

 

SISTEMAS DE AQUECIMENTO MAIS VERDES

 

1. AQUECIMENTO GEOTÉRMICO

A energia geotérmica é atualmente reconhecida por vários estudos (incluindo da Energy Star e da U.S Energy Information Administration) como sendo uma das formas mais sustentáveis e eficientes de aquecer as casas.  [5] [6] [7]

O aquecimento geotérmico significa, literalmente “calor da terra” – este método utiliza a temperatura da Terra para fazer o aquecimento da casa. Enquanto um sistema típico utiliza o ar externo para ser aquecido (uma vez que o ar externo é mais frio, o sistema tem de usar mais energia para o aquecer), o sistema de aquecimento geotérmico é instalado abaixo da superfície da Terra, onde a temperatura é mais alta, sendo assim necessária menos energia para que a nossa casa atinja a temperatura desejada.

Em termos de emissões, estima-se que o aquecimento geotérmico produza entre 75% a 85% menos emissões de dióxido de carbono do que sistemas a gás ou petróleo. [8]

Infelizmente, a instalação de um sistema geotérmico ainda tem um valor bastante elevado; no entanto, na maioria dos casos, este investimento paga-se a si próprio em cerca de 8 anos. No caso de estarmos a construir agora a nossa casa, poderá ser um bom investimento a ter em conta, para incluir no valor inicial a despender na construção.

 

2. AQUECIMENTO SOLAR

Não é difícil de perceber que o aquecimento solar é a solução mais eficiente em termos de eficiência/custo. Depois de fazeres o investimento inicial para instalar o sistema e os painéis solares, basicamente, não tens quaisquer custos adicionais.

Ou seja, podes aquecer a tua casa gratuitamente para o resto da tua vida.

Os sistemas de aquecimento solar usam energia solar para aquecer um fluido - líquido ou ar - e então transferir o calor solar diretamente para o espaço interno ou para um sistema de armazenamento para uso posterior. Se o sistema solar não puder fornecer aquecimento adequado, um sistema auxiliar fornece o calor adicional. Os sistemas líquidos são usados ​​com mais frequência quando o armazenamento está incluído e são adequados para sistemas de aquecimento radiante, caldeiras com radiadores de água quente e até mesmo bombas de calor de absorção. Tanto os sistemas de líquido quanto de ar podem complementar os sistemas de ar forçado.

 

3. AQUECIMENTO COM PELLETS

Os aquecimentos a pellets são configurados de forma semelhante aos equivalentes com madeira – mas queimam pellets em vez de lenha. Os pellets são feitos a partir de misturas de resíduos de fontes renováveis, como relva e pó de serragem de fábricas de madeira. Esses produtos, que seriam mandados fora, são transformados em pequenos pellets que são depois vendidos por valores bastante acessíveis.

Os pellets acabam por ser uma alternativa bastante mais acessível do que as outras opções anteriores, e emite muito menos emissões poluentes para o ar do que o tradicional aquecimento a lenha. Poupas também tempo e espaço, pois não será necessário transportar ou armazenar lenha para a lareira.

Em casas maiores, poderá ser necessário adquirir dois fogões, uma vez que apenas um pode não conseguir fornecer aquecimento suficiente para toda casa.

 

4. AQUECEDOR DE ALVENARIA

Os aquecedores de alvenaria são dispositivos utilizados para aquecer um espaço interior por meio de aquecimento radiante. Chamados de fogões, estes aquecedores são feitos com tijolo ou azulejo, e retêm o calor no seu interior. A alvenaria demora mais tempo a aquecer do que o metal; mas, uma vez aquecido, o aquecedor irá irradiar esse calor durante um período de tempo muito mais longo. Na verdade, podem fornecedor calor durante um período de até 24 horas.

Embora estes aquecedores utilizem lenha, eles produzem menos poluição do que um forno de lenha tradicional, pois queimam mais devagar e, por consequência, necessitam de menos matéria-prima. Graças à queima lenta, também produzem mais calor do que outros tipos de fogões e lareiras.

Agora que já conheces novas opções no que toca ao aquecimento da tua casa, sugerimos que possas refletir sobre elas e tentar perceber qual a melhor opção para ti. Como acontece tantas vezes, não existe uma opção correta ou mais acertada; existem, sim, diferentes opções que se adaptam mais facilmente ao teu orçamento e às tuas necessidades, e que podem ser mais ou menos sustentáveis tendo todas essas variantes em atenção.

 

[1] Fonte: Energy: Use Less, Save More – Jon Clift & Amanda Cuthbert

[2] Fonte: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Energy_consumption_in_households

[3] Fonte: https://www.pnas.org/content/117/32/19122

[4] Fonte: https://energysavingtrust.org.uk/significant-changes-are-coming-uk-heating-market/

[5] Fonte: https://www.eia.gov/energyexplained/geothermal/use-of-geothermal-energy.php

[6] Fonte: https://www.eia.gov/energyexplained/geothermal/geothermal-energy-and-the-environment.php

[7] Fonte: https://www.energystar.gov/products/heating_cooling/heat_pumps_geothermal

[8] Fonte: https://utsouthern.edu/2020/11/19/sustainability-energy/