Vamos Desplastificar?

Vamos Desplastificar?

 

Apesar de a palavra “desplastificar” não existir, há cada vez mais pessoas a dar-lhe significado e, por isso, não admiraria que se juntasse ao dicionário mais um neologismo nascido e criado da vontade de se fazer mais e melhor. Resta saber com que objetivo pretendemos reduzir o plástico na nossa vida: para REMEDIAR ou PREVENIR?

 

“PESSOAS EM TERRA, LIXARADA NO MAR”

As praias fazem parte do património do mundo e são, normalmente, os locais elegidos como cenário de férias. Em troca desta prazerosa sensação apenas surge uma tarefa muito simples: a única coisa que lá devemos deixar são MEMÓRIAS.

O lixo marinho é uma das fontes de problemas de poluição mais difundidas pelo planeta. Durante muitos anos se olhou para o lixo em terra e no mar como algo desagradável ao olhar, mas agora percebemos que não se trata de uma questão meramente estética: os detritos conquistam corais, são confundidos com alimento e encurralam o que de barbatanas e escamas nada livremente. Por este andar vamos deixar de “nadar com os peixinhos” e passar a “nadar com os lixinhos”. Não parece muito apelativo, pois não?

Se somos nós parte do problema, também podemos ser parte da solução. É por isso que os nossos calendários se fazem preencher com movimentos, projetos e campanhas que visam a limpeza de praias.

São iniciativas que fazem a diferença? Sem dúvida! Mas melhor do que isso seria impedir que a poluição acontecesse, e não limpá-la depois de estar feita.

 

CAPITÃO FUNGO EM AÇÃO!

O seu nome é Zalerion Maritimum e, com este nome tão catita, poderia ser muito bem mais um herói da Marvel. Não é; mas pode ser a chave para o grave problema ambiental que os microplásticos representam para os oceanos. Querem notícias melhores? Foram descobertos por portugueses!

Estes pequeninos, esponjosos e esbranquiçados fungos, que habitam nas costas portuguesa, espanhola e também ao largo da Austrália e da Malásia, parecem ser “comedores de plásticos”. Na verdade, eles só vão à procura de plásticos como fonte de alimento se não houver outras opções; logo, dadas as circunstâncias e possíveis opções de cardápio certamente mais apetecíveis no fundo do mar, não temos sequer direito de os julgar.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro simulou, em laboratório, o mar poluído com microplásticos e deparou-se com uma feliz evidência: a população de fungos aumentou enquanto a quantidade de plástico diminuiu. Em sete dias o Zalerium devorou 77 por cento das partículas!

Estes resultados são animadores e até podem ajudar, futuramente, no combate à poluição dos oceanos, em especial, junto às estações de tratamento. Ao invés de se retirarem rudimentarmente o plástico das águas com redes e colocá-lo em aterros, podemos colocar o capitão fungo em ação! Apesar de não terem sido detetados quaisquer vestígios de compostos tóxicos na água, resta saber com mais previsão se estes amigos, ao decomporem o plástico, não trazem contrapartidas menos heroicas.

 

EU DESPLASTIFICO, TU DESPLASTIFICAS, ELE DESPLASTIFICA...

Reduzir os microplásticos na nossa vida implica reduzir e até mesmo abdicar de muitos dos produtos que já ganharam o seu espaço nas gavetas ou armários lá de casa. E, na pior das hipóteses, quando não conseguimos fugir totalmente à sua omnipresença silenciosa e oculta, há que reunir estratégias para não alimentarmos o seu domínio.

Podemos começar por evitar a roupa sintética: deixar os acrílicos, nylons, poliésteres e companhia, nomearmos nobremente as peças mais duradouras como fiéis companheiras das futuras jornadas e juntar à família mais ‘roupa com história’ ou, para os amigos mais próximos e não preconceituosos, roupa em segunda mão. E na lavandaria é importante termos alguns ‘trunfos na manga’: fazer menos lavagens, encher a máquina, usar ciclos mais longos com menores rotações e temperatura, e, no caso das roupas sintéticas, usar um Saco de Lavagem Guppyfriend, que diminui a quantidade de microplásticos libertados.

Cotonetes, pensos higiénicos, toalhitas e tantos produtos rotineiros não deveriam nunca conhecer as paredes da peça de loiça sanitária. Optar por cotonetes e escovas de bambu e escolher os sabonetes e champôs sólidos são formas simples de evitar embalagens de plástico descartáveis e são alternativas livre de microesferas nocivas. Para nos esquivarmos destas últimas, o truque é fugir de ingredientes que comecem por “poli” ou que apareçam como PE, PEG-32, PMMA e PET.

 

O PLÁSTICO NÃO VAI DESPARECER POR MAGIA. ELE VAI DAR LUTA!

Encontrar soluções para remediar o que já está feito é um grande passo, mas esta abordagem pode ser comparada à tentativa de se limpar a água que transborda de um lava-loiça em vez de simplesmente nos preocuparmos em fechar a torneira; ou quando recorremos a medicamentos que mascaram sintomas ao invés de tratarmos a origem do problema.

Vamos precisar de uma combinação de vários gestos: regulamentações governamentais, participação da indústria e mudanças no comportamento humano para que, unidos, consigamos deixar de nos identificar como “plástico-dependentes”.