Se há uma tendência para repensarmos as nossas ações mais rotineiras, cresce também, quase por consequência, uma vontade de alargar a nossa preocupação ambiental a mais áreas e projetos da nossa vida.
Numa busca em alinharmo-nos com a natureza e a tornarmo-nos responsáveis pela Casa da Humanidade, é natural que queiramos replicar essa consciência de responsabilidade social e ambiental no nosso próprio lar. Independentemente de querermos “levantar pilares” de uma nova casa ou de já termos teto sobre as nossas cabeças, de termos ou não possibilidade de abraçar novos projetos ou de simplesmente aprimorarmos aquilo que já é nosso, cada passo que tomamos em prol do todo é estarmos já a fazer a nossa parte.
CASAS SUSTENTÁVEIS
Embora há uma década a ideia de viver numa casa sustentável fosse desejável para muitos, a verdade é que essa era uma realidade distante ou até difícil de se concretizar. A tecnologia e os materiais necessários eram escassos e até vistos com alguma desconfiança. Mas a crescente preocupação ambiental fez com que o próprio mercado tivesse a necessidade de se adaptar e, no meio de uma dança dinâmica entre oferta e procura, não é de admirar que tenham surgido cada vez mais adeptos de projetos dessa natureza.
E o que define uma casa sustentável? Há 4 aspetos a ter em conta:
Espaço | O tamanho da casa não só reflete a energia que levou para ser construída, mas também a quantidade de energia que irá requisitar para o seu funcionamento. Por isso, no momento de se projetar uma casa sustentável, é importante adequar a área às nossas reais necessidades (atuais e a longo prazo).
Construção | Os materiais utilizados na construção devem ser saudáveis para os utilizadores, ter um consumo baixo de energia no seu transporte e produção, um bom isolamento e ser renováveis e reutilizáveis. Neste sentido, pode-se optar pelo uso de biomateriais, materiais reciclados, soluções de base natural, fachadas e coberturas verdes e soluções de arquitetura bioclimática.
Consumo | Vamos minorar o consumo de energia? Painéis solares ou outros sistemas para gerar energia ou aquecimento de águas, sistemas de recolha e depósito de águas dos lavatórios e banho/duche e da chuva, bons isolamentos, vidros duplos, localização estratégica, eletrodomésticos e lâmpadas eficientes, materiais de construção ecológicos ... e por aí vai!
Tempo | Quanto maior o tempo de vida de uma casa, dividido pela energia dispensada na sua construção, menor será certamente o seu impacto ambiental.
VANTAGENS:
Poupança a longo prazo - grande eficiência energética com a produção de energia de auto-consumo, resultando num retorno efetivo do investimento inicial.
Redução do impacto ambiental - poupança de energia durante a fase de construção (com escolhas acertadas de materiais e técnicas construtivas) e, posteriormente de ocupação e respeito pelo espaço natural envolvente.
Segurança - dependência de recursos naturais considerados inesgotáveis, como o sol e o vento, ao invés de recursos não renováveis e perigosos para a saúde, como o petróleo ou gás.
Qualidade do ambiente - conforto térmico e acústico, sistemas de ventilação que melhoram a qualidade do ar e aplicação de materiais menos tóxicos ou amigos do ambiente.
DESVANTAGENS:
Investimento - possível implicação de uma maior despesa inicial, embora esse dinheiro seja recuperado devido à poupança energética a longo prazo.
Tempo de construção – cuidados com os detalhes e necessidade de materiais específicos, que poderão implicar maior tempo de espera.
Mão-de-obra qualificada/especializada – mais empresas direcionadas para as construções convencionais e menor experiência ou equipas para efetivarem a construção ou reparação de materiais e/ou sistemas virados para a sustentabilidade.
ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS NA TUA PRÓPRIA CASA
Uma ideia errada que se tem de práticas sustentáveis aplicadas à casa é a de que elas só se efetivam se implantadas desde a conceção do projeto. É possível atingir melhores padrões domésticos, de eficiência ambiental e energética, sem que sejam feitos altos investimentos ou até implementando pequenas estratégias básicas, sem implicar custos que acabam por fazer diferença no final do mês.
Consumo de água
É possível melhorares a eficiência hídrica da tua casa com peças ou engenhocas tais como: o redutor de caudal, um dispositivo metálico complementar, instalado nas torneiras e chuveiros que permitem, por reduzirem o fluxo, poupar mais de 60% do consumo de água. Ou os modelos de autoclismo de dupla descarga, que representam uma redução de cerca de 50% no consumo de água.
Mais simples que isto é avaliarmos a nossa rotina, revermos cada hábito e adotarmos comportamentos mais conscientes nas pequenas coisas em que podemos economizar. No fundo, aquilo que todos nós já ouvimos e sabemos, mas que a força do hábito ou mera distração nos faz esquecer: fechar a torneira quando não precisamos, recolher e reutilizar a água desperdiçada, regar as plantas nas horas de menor calor, lavar a roupa quando a máquina estiver cheia ou colocar uma garrafa cheia de terra no interior do autoclismo para diminuir o volume de água em cada descarga.
De forma mais sorrateira, as fugas de água também podem ser motivo de desperdícios! Cá vai uma técnica para perceberes se elas te estão a comprometer a fatura da água: observa o contador da água quando todas as torneiras estiverem fechadas e sem que as máquinas de lavar estejam em funcionamento. Se o ponteiro do contador mexer... fuga de água apanhada!
Consumo de energia
Já não é novidade que optar por lâmpadas LED é uma mudança relativamente simples e que pode ser feita para se começar a poupar energia em casa. Podem durar até 2 vezes mais e são, em média, 80% mais económicas que os modelos incandescentes e 35% que os fluorescentes.
Os eletrodomésticos mais eficientes são um bom exemplo que contraria a matemática: mais com mais afinal dá menos, menor consumo energético! Sem dúvida, eletrodomésticos de classe! Literalmente. E atenção com esse frigorífico! Como é um dos eletrodomésticos que consome mais energia, evita estar constantemente a espreitar se há lá alguma coisa para petiscares.
E aquela dica tão básica de abrirmos as janelas para deixar a luz entrar? Bem conhecida, não é? Pois, mas a verdade é que é uma solução muito boa para economizar energia e favorecer a renovação de ar.
Embora possam significar um investimento inicial um pouco mais avultado, seria um lapso não fazer menção às casas inteligentes: basta teres acesso à internet, um smartphone ou comandos de voz, investir em equipamentos essenciais et voilà! Perto ou distante, controlas tomadas, a máquina de lavar, o baixar e o levantar das persianas, acabas com os consumos em stand-by, desligas as luzes que possam ter ficado ligadas e até consegues sincronizar a máquina do café com o alarme despertador! Isto é sem dúvida um potenciar energia a outro nível!
Consumos e resíduos
No que respeita ao “dar uma nova vida ao desperdício”, o objetivo é procurarmos travar o uso de recursos finitos sem consciência e até a natureza e a capacidade natural que tem em transformar-se. Aderir à cultura da reutilização pode ser tão simples, como reaproveitar os frascos de café solúvel ou de compotas para guardar alimentos a granel ou produtos de limpeza.
Gerir os resíduos é uma questão de dar o destino adequado ao lixo produzido em casa, separando-os por tipo de material e até de se considerar fazer compostagem. Folhas, flores, restos de vegetais e frutas, cascas de batata e ovo, borras de café... a compostagem doméstica é bem inclusiva! E, ao contrário daquilo que se pensa, é uma estratégia que não requer grandes investimentos. Seja em ponto grande ou pequeno, colocados em moradias ou apartamentos, há já imensas opções no mercado e até soluções caseiras que podem ser montadas com materiais que já temos. Existem até opções de compostores para termos dentro de um apartamento, como este.
O segredo está na eficiência e na capacidade de adaptação, ou seja, perceber como consumir o mínimo de energia e obter a máxima performance e encontrar as soluções que o façam de acordo com as nossas necessidades e possibilidades.
No fundo, estarmos conscientes de que podemos facilmente adotar estratégias inteligentes e termos a inteligência de vivermos e agirmos em consonância com uma consciência global.
Comentários