Todos sabemos que vivemos numa época em que tudo é “para ontem”. Os patrões querem o trabalho feito em tempo recorde, os nossos filhos querem atenção já, nós queremos chegar às compras e ser atendidos no momento, queremos que a encomenda chegue amanhã à nossa casa... Tudo deve ser imediato ou, se não o for, deve acontecer no espaço de tempo mais curto possível.
Queixamo-nos diariamente de que não temos tempo para nada. Vivemos numa era em que estar ocupado é sinal de que somos bem-sucedidos. Não temos tempo para a família, nem para os amigos, muito menos para nós mesmos, mas achamos que não há problema – se temos trabalho a mais, é porque temos uma carreira de sucesso, em que nos pedem para fazer mais do que é humanamente possível, como se fôssemos uma versão terráquea do Super-Homem.
A questão da pandemia, que nos obrigou a ficar fechados em casa, dedicados apenas e só ao trabalho, sem opções para divertimento ou descanso, aumentaram ainda mais o nosso desespero e falta de tempo. Por consequência, 25% da população portuguesa revelou recentemente sintomas de burnout.[1] Gostávamos de saber quando parar, mas não sabemos, e por isso não paramos – vivemos uma grande parte da nossa vida em piloto automático, em vez de aprendermos a desligar e realmente aproveitar os dias.
Mas sempre que aparece um novo problema, começamos a ouvir burburinhos sobre as soluções. E quando nos apercebemos do problema causado pelo nosso cansaço, houve quem viesse propor um novo estilo de vida: o slow living.
Slow living é mais do que um movimento; é uma mentalidade, uma forma de viver, que tem por base a consciência de viver uma vida com mais sentido e que vai ao encontro daquilo a que dás mais valor na tua vida. Quando desaceleras e prestas mais atenção ao que te rodeia e aos teus valores, tomas decisões mais conscientes e com mais significado, que são melhores para ti e melhores para o planeta.
COMO NASCEU O SLOW LIVING?
O movimento slow living é apenas uma parte do movimento slow, que nasceu em Itália nos anos 80. Após a abertura de um restaurante de fast food, vários ativistas juntaram-se para defender as tradições de gastronomia regional através do movimento de slow food.
Mas o conceito por trás deste movimento interessou a muitas pessoas por todo o mundo. Por isso mesmo, o movimento mutou-se e começou a ser aplicado a vários aspetos da nossa vida: slow travel (viagens), slow fashion e até slow design.
Por isso mesmo, viver devagar é muito mais do que apenas um movimento em que fazemos as coisas mais devagar. Convida-nos a repensar as nossas ações diárias e o tempo que gastamos (e muitas vezes, desperdiçamos) a pensar em coisas que realmente não nos preenchem nem nos são úteis. Afinal, temos muitas horas num dia; mas muitas delas são passadas a trabalhar, outras a dormir, e as restantes a comer, a gastar fôlego em atividades que não nos preenchem, a ver programas na televisão de que nem gostamos particularmente, e depois chegamos ao final da nossa vida a sentir que, realmente, não aproveitámos nada de bom.
Acima de tudo, é perceber que deves estar ancorado no presente (sem pensar no futuro ou no passado), deves sentir o que te rodeia e viver de forma consciente e criando relações com mais significado. Porque, quando vivemos acelerados, perdemos o sentido daquilo que fazemos e não temos noção do valor das coisas.
MITOS SOBRE SLOW LIVING:
1. Viver devagar é andar a passo de caracol
Nem todos nós vivemos à mesma velocidade, isso é certo, e alguns trabalhos obrigam, realmente, a uma velocidade bem rápida. Mas viver devagar não é sobre viver a uma velocidade em que estás quase parado! Antes pelo contrário; o importante é saber equilibrar os momentos de rapidez com os momentos de sossego, e saber que ambos são igualmente importantes para o nosso sucesso.
2. Para viver devagar, tens de fazer uma vida simples
Antes de mais, o que significa ter “uma vida simples”? Este é um conceito demasiado vasto para podermos aplicar apenas a “trabalhar menos e consumir pouco”. Mas utilizando esse conceito mais abrangente, podemos dizer que uma vida simples é mais focada nas alterações de consumo e numa atenção redobrada ao materialismo, enquanto o viver devagar é mais focado no tempo e na energia. Claro que, muitas vezes, vais descobrir que um não pode viver sem o outro, mas não são obrigatoriamente gémeos siameses.
3. Slow living é anti-tecnologia
Ninguém te vai dizer para andares para trás no tempo e deixares de lado todas as tecnologias que adquirimos até hoje! O importante é aprenderes a utilizar a tecnologia como uma ferramenta que te ajuda no dia-a-dia – ou seja, tu controlas a tecnologia, e não ao contrário.
DICAS PARA DESACELERAR:
Se já percebeste que precisas de viver mais devagar e mudar algumas das tuas rotinas, já estás num bom caminho. Mas sabemos que nem sempre é fácil mudar a forma como vivemos, e não é de todo imediato quais são as mudanças que podemos implementar de forma simples. Por isso, deixamos-te uma lista com algumas coisas que podes começar desde já a mudar na tua vida.
1. Na hora das refeições, senta-te à mesa e come num prato, mesmo que seja uma refeição de takeaway. Muitas vezes temos a tentação de comer no sofá, ou em pé, à pressa, e no caso de comida vinda de fora, muitas vezes nem a tiramos da embalagem. Mas é muito importante que possas tornar o momento da refeição numa hora quase “sagrada” e inviolável, que serve para descansares e parares um pouco.
2. À mesa, nada de livros, jornais, telemóveis ou computadores. Foca-te nos aromas e nos sabores da comida, e não no que se passa no mundo fora de tua casa. A hora de refeição deve ser um momento de paz e não de distração.
3. Aproveita o tempo de viagem entre o trabalho/a escola e a tua casa. Muitos de nós passamos por vezes horas do dia só em viagens entre a nossa casa e o nosso local de trabalho. Por isso, é importante que esse tempo seja aproveitado para mais do que apenas ficar a olhar para o trânsito. Se fores de carro, aproveita para ouvir música, um áudio-livro ou até entrevistas e podcasts. Se fores de transportes públicos, podes fazer tudo isso e adicionar o prazer de ler um livro, por exemplo, ou fazer uns desenhos num caderno.
4. Dedica tempo ao sono. Independentemente de quanto trabalho tenhas, ou quantas coisas tenhas por fazer, lembra-te de que manter uma boa rotina de sono é muito importante. Dedica pelo menos 7-8h diárias de sono para te sentires bem e saudável.
5. Planeia a tua rotina. Marcar uma data e hora para ver filmes com o teu companheiro ou para pintar e ler livros pode ser difícil, e tira o gosto da espontaneidade. Mas, muitas vezes, não fazemos as coisas que nos deixam mais felizes apenas porque não arranjamos tempo para elas! Marca no teu calendário: quinta-feira tem direito a noite dia de cinema, os sábados são para dedicar à criatividade e as terças são dia de inventar receitas. E cumpre esse planeamento, sem desculpas!
6. Desfruta do silêncio. Quantas vezes não acendemos a televisão ou o rádio apenas para termos um “barulho de fundo”? Afinal, qual é o nosso desconforto com o silêncio? Não tens de fazer disso um hábito diário, mas recomendamos que possas, de vez em quando, aproveitar bem os momentos de silêncio para te recompores, dares voz aos teus pensamentos e desligares o barulho constante da tua vida.
7. Descobre novos hobbies. Uma das melhores formas de sentires que a tua vida tem mais sentido é dedicares-te a coisas de que gostas realmente, para além do teu trabalho! Começa a desenhar, aprende a tocar um instrumento, lê livros, faz desporto, dedica-te à jardinagem... a escolha é tua!
8. Mantém-te presente nos passeios e encontros. Hoje em dia adoramos capturar memórias com os nossos telemóveis e câmaras, mas a verdade é que isso muitas vezes nos distrai do que realmente importa: o presente. Por isso, tira uma fotografia logo no início para capturar o momento, e depois deixa que essas distrações desapareçam.
9. Não participes em atividades desnecessárias. Um grande foco no slow living é aprender a dizer ‘não’. Não faz sentido teres de dedicar tempo a atividades de que não gostas ou que não queres fazer, apenas para agradar a outras pessoas ou para ‘marcar presença’. Por isso, dedica-te apenas às coisas que são realmente importantes na tua vida. E não te esqueças de aplicar a mesma regra a todas as pessoas da casa: se os teus filhos não querem aprender a dançar, ou não querem estar numa equipa de futebol, não os deves forçar.
Nos dias que correm, é totalmente normal achares que não tens tempo para dedicar a ti e ao que te faz feliz. Mas se pensares que cada dia tem 24 horas, vais começar a perceber que, na verdade, tens imenso tempo para desfrutar da vida! Simplesmente precisamos de começar a perceber como aproveitar melhor esse tempo, de forma a podermos equilibrar o nosso trabalho, o nosso sucesso e uma vida feliz.
[1] Fonte: https://www.publico.pt/2021/05/31/p3/reportagem/burnout-tsunami-engole-millennials-1963338
Outras fontes:
https://www.entrepreneur.com/article/273742
https://www.therusticelk.com/slow-living-tips/
https://www.sloww.co/slow-living-301/
https://www.minimalismmadesimple.com/home/slow-living/
https://japanahome.com/journal/an-intro-to-slow-living-tips-advice/
https://vanillapapers.net/2019/02/20/slow-living-blog-quotes-trend/
https://theslowlivingguide.co.uk/slow-living-101/
https://polysleep.ca/blogs/wellness/slow-living
https://grottonetwork.com/make-an-impact/transform/positive-effects-slow-living/
https://minimalistfocus.com/principles-of-slow-living/
https://www.sloww.co/slow-living-201/
https://www.slowlivingldn.com/what-is-slow-living/
Comentários